24 Teses Metafísicas – Gottfried Wilhelm von Leibniz

24 Teses Metafísicas, escritas pelo matemático e filósofo alemão G. W. Leibniz


  1. Há uma razão na Natureza para que algo exista em vez de nada. Isso é uma consequência do grande princípio de que nada acontece sem uma razão, assim como deve haver uma razão para que isso exista em vez de uma outra coisa.
  2. Essa razão deve estar em algum Ser Real, ou causa. Porque uma causa nada mais é do que uma razão real, e verdades sobre possibilidades e necessidades (ou seja, onde a possibilidade do contrário é negada) não produziriam qualquer coisa a menos que as possibilidades fossem fundadas em uma coisa existente realmente.
  3. Ora, esse Ser deve ser necessário, caso contrário uma causa teria de ser procurada fora dele para que ele exista em vez de não existir, o que é contrário à hipótese. Claramente, esse Ser é a razão última das coisas, e normalmente é referido pela simples palavra “Deus”.
  4. Existe, portanto, uma causa pela qual a existência prevalece sobre a inexistência, em outras palavras, o Ser necessário é Existificans (Existificante).
  5. Mas a causa que faz com que algo exista, ou com que a possibilidade requeira a existência, também faz com que todo possível tenha uma tendência à Existência, já que não se pode encontrar uma razão geral para restringir isso apenas a certos possíveis.
  6. Portanto, pode-se dizer que todo possível é Existiturire (está em busca da existência), pois baseia-se em um ser necessário, existente realmente, sem o qual não há como atingir a atualidade.
  7. No entanto, não decorre disso que todas as possibilidades existem, mas isso aconteceria se todas as possibilidades fossem compossíveis1.
  8. Porém, como algumas coisas são incompatíveis com outras, segue-se que certas possibilidades não atingem a existência. Algumas possibilidades são incompatíveis com outras não apenas no que diz respeito ao mesmo tempo, mas também universalmente, porque as possibilidades futuras estão envolvidas nas atuais.
  9. Enquanto isso, do conflito de todas as possibilidades que exigem a existência, pelo menos isto se segue, que existe aquela série de coisas através das quais existe a maior quantidade, ou seja, a série máxima de todas as possibilidades.
  10. Além disso, só essa série é determinante, do mesmo modo que as linhas determinam a linha reta, os ângulos determinam o ângulo reto, e as figuras formam as mais capaciosas, ou seja, o círculo ou esfera. E, assim como vemos os líquidos coletados naturalmente em gotas esféricas, também na natureza do universo existe a série mais capaciosa.
  11. Portanto, o que existe é o mais perfeito, já que a perfeição (perfectio) não é outra coisa senão a quantidade de realidade.
  12. Além disso, a perfeição não deve ser localizada apenas na matéria, ou seja, em algo que preencha tempo e espaço, cuja quantidade teria sido a mesma em qualquer caso, mas na forma ou variedade.
  13. Do qual se conclui que a matéria não é semelhante em todos os lugares, mas diferenciada por formas, caso contrário não haveria tanta variedade quanto possível. Sem mencionar o que demonstrei em outro lugar, que de outro modo nenhum fenômeno diverso teria existido.
  14. Segue-se também que essa série prevaleceu, através da qual surge a maior quantidade do que é distintamente cogitável.
  15. Além disso, a cogitabilidade distinta dá ordem a uma coisa e a uma beleza para o pensador. Porque a ordem nada mais é do que uma relação distinta de muitas coisas, e a confusão ocorre quando muitas coisas estão presentes, mas não há maneira de distinguir uma coisa da outra.
  16. Isso impossibilita átomos e, em geral, quaisquer corpos nos quais não haja uma razão para se distinguir uma parte de outra.
  17. E segue-se, em geral, que o mundo é κόσμον (um cosmos), completo e adornado, ou seja, feito de tal forma que satisfaz plenamente um ser inteligente.
  18. Para um ser inteligente, o prazer nada mais é do que a percepção da beleza, da ordem e da perfeição. E toda dor contém algo desordenado, embora relativo ao percipiente, já que, absolutamente falando, todas as coisas são ordenadas.
  19. Consequentemente, quando algo na série de coisas nos desagradam, isso surge de um defeito de nosso entendimento. Porque não é possível que cada mente entenda todas as coisas de forma distinta, e a harmonia no todo não pode aparecer para aqueles que observam apenas algumas partes em vez de outras.
  20. É uma consequência disso que a justiça também é observada no universo, já que a justiça não é nada mais que ordem ou perfeição no que diz respeito às mentes.
  21. E a maior consideração é dada às mentes, porque através delas se obtém a maior variedade possível no menor espaço possível.
  22. E também se pode dizer que as mentes são as unidades primárias do mundo e as semelhanças mais próximas do primeiro Ser, pois percebem distintamente verdades necessárias, ou seja, as razões responsáveis por mover o primeiro Ser e por formar o universo.
  23. Além disso, a primeira causa é da máxima bondade, pois enquanto produz o máximo de perfeição possível nas coisas, confere simultaneamente o máximo de prazer possível às mentes, já que o prazer consiste na percepção da perfeição.
  24. Tanto é assim que os próprios males servem a um bem maior, e, uma vez que as mentes experimentam dores, isso deve ser necessário para se avançar em direção a maiores prazeres.

Notas:

[1] Segundo Leibniz, compossível é um conjunto de elementos que podem coexistir sem que haja contradição entre eles.


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Sobre o Autor ou Tradutor

Bernardo Santos

Aluno do Olavão, bacharel em matemática, amante da Filosofia, tradutor e músico nas horas vagas, Bernardo Santos é administrador principal do Diário Intelectual.

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