“Moralidade Negativa e Positiva” foi primeiramente publicado no Illustrated London News (ILN) em 3 de Janeiro de 1920.
Uma vasta quantidade de bobagens é falada contra coisas negativas e destrutivas. O tipo mais bobo de progressista reclama da moralidade negativa, e a compara desfavoravelmente com a moralidade positiva. O tipo mais bobo de conservador reclama da reforma destrutiva e a compara desfavoravelmente com uma reforma construtiva. Tanto o progressista quanto o conservador negligenciam totalmente a consideração do próprio significado das palavras “sim” e “não”. Dar a resposta “sim” a uma pergunta é implicar a resposta “não” a outra pergunta. Desejar a construção de algo é desejar a destruição de qualquer coisa que impeça sua construção. Isso é particularmente claro na confusão sobre a moralidade “negativa” dos Dez Mandamentos. A verdade é que a brevidade dos Mandamentos é uma evidência, não da escuridão e estreiteza de uma religião, mas de sua liberalidade e humanidade. É mais curto declarar as coisas proibidas do que as coisas permitidas, precisamente porque a maioria das coisas é permitida e apenas algumas coisas são proibidas. Um otimista que insistisse em uma moralidade puramente positiva teria que começar por dizer a um homem que ele pode colher dentes-de-leão em um lugar comum e assim continuar a falar por meses antes de chegar ao fato de que o homem pode jogar seixos no mar. Em comparação com essa moralidade positiva, os Dez Mandamentos resplandecem melhor nessa brevidade que é a alma da sagacidade.
Mas é claro que a falácia é ainda mais fundamental do que isso. Moralidade negativa é moralidade positiva, declarada da maneira mais simples e, portanto, a mais positiva. Se me dizem para não assassinar o Sr. Robinson, se me mandam parar no próprio ato de assassinar o Sr. Robinson, é óbvio que o Sr. Robinson não apenas é poupado, mas em certo sentido ele é renovado, e até mesmo criado. E aqueles que gostam de Mr. Robinson, e dentre eles meu romantismo reacionário talvez possa sugerir a inclusão da Sra. Robinson, estarão bem cientes de que recuperaram uma unidade viva e complexa. Do mesmo modo, aqueles que gostam da civilização européia, e do código comum do que costumava ser chamado de cristandade, perceberão que a salvação não é negativa, mas altamente positiva, e até mesmo altamente complexa. Eles se regozijarão com o fato de terem sido salvos, muito antes de terem tempo livre para examinar o assunto. No entanto, mesmo sem exame, eles saberão que há muito a ser analisado, e muito que vale a pena ser examinado. Nada é negativo, exceto o nada. Não é nosso resgate que foi negativo, mas apenas o nada e a aniquilação da qual fomos resgatados.
Por outro lado, existe a mesma falácia sobre a reforma meramente destrutiva. Ela poderia ser aplicada com a mesma facilidade à guerra meramente destrutiva. Em ambos os casos, a destruição pode ser essencial para evitar a destruição, e também para a própria possibilidade de construção. Os homens simplesmente não destroem um navio para que ele naufrague; eles podem simplesmente destruir uma árvore para ter um navio. Queixar-se de que passamos quatro anos na Grande Guerra em mera destruição é queixar-se de que os passamos fugindo de ser destruídos. E é, com efeito, esquecer o fato de que o fracasso do assassino significa a vida de um Sr. Robinson positivo e não um Sr. Robinson negativo. Se considerarmos o imaginário Sr. Robinson como sendo um homem médio moderno na Europa Ocidental, e o estudarmos da cabeça aos pés, encontraremos defeitos assim como méritos. E em toda a civilização que salvamos encontraremos defeitos que equivalem a doenças. Seus pés, se não forem de barro, certamente estão no barro, presos na lama de uma miséria industrial materialista e de desespero. Dizer que ter salvo o Sr. Robinson do estrangulamento é um bem e uma glória positivos é não perceber todo o sentido da vida humana. É deixar de lado todo bem assim que o salvamos, ou seja, perdê-lo assim que o adquirimos. O progresso desse tipo é uma esperança que é inimiga da fé, e uma fé que é inimiga da caridade.
Quando nossas esperanças para o tempo vindouro nos parecerem inquietantes ou duvidosas, e a paz caótica, lembremos que é realmente nossa decepção que é uma ilusão. É a nossa salvação que é uma realidade. Nossos motivos para agradecer são realmente muito maiores do que a nossa capacidade de sermos gratos. É na atmosfera de um tipo nobre de humildade, e até mesmo de um tipo nobre de medo, que se fazem realmente coisas novas. Nós adornamos as coisas quando mais as amamos. E as amamos mais quando quase as perdemos.
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