Contra a vida intelectual, ou iniciação à cultura (Kírion, 2024), terceiro livro de Ronald Robson, trata de um fenômeno de crescente importância no Brasil: a difusão de cursos on-line de autoeducação que, desligados de instituições oficiais, são buscados por uma parcela expressiva do público conservador frustrado com o descalabro educacional do país. O autor, ele próprio um acadêmico envolvido com iniciativas on-line, saúda o impulso de autoeducação, inédito no país, ao mesmo tempo que condena uma nova classe de pseudointelectuais.
Um novo modismo – Ronald Robson aponta o que chama de “um novo modismo na cultura brasileira”. Refere-se assim ao que, no prólogo do livro, chama de “a voga on-line de educação (ou autoeducação), que permitiu a disseminação da posição política de direita”. Segundo ele, esse fenômeno “acabou por acrescentar novos males aos já conhecidos malefícios da educação oficial brasileira e dos meios culturais de prestígio dominados pela esquerda”. Entre esses males apontará “a confusão de educação com doutrinação conservadora, autoridade intelectual com riqueza financeira, e a substituição da produção cultural autêntica pela louvaminhice dos ‘clássicos’, da ‘vida intelectual’, das ‘virtudes’”.
O marketing digital – O autor acredita que o marketing digital amplificou o fenômeno com a disseminação de infoprodutos relacionados à “vida intelectual”, porém a reduzindo a um conjunto de preceitos, de regras a seguir, as quais pouco têm a ver com as características da vida intelectual autêntica e de uma atuação cultural efetiva. Em plataformas como o Instagram, escreve Ronald Robson, “não só a cultura se torna indistinguível da propaganda, como a própria propaganda se torna autopropaganda” daqueles que têm em sua própria imagem o principal produto à venda, na medida em que se apresentam como pretenso modelo de vida intelectual, empresarial e familiar.
Literatura para covardes – O livro, cheio de traços de ironia, vai se tornando mais sério à medida que caminha para o fim e busca oferecer, em sua última parte, uma “Literatura para covardes”. Nela, o autor se empenha em atacar não mais as falsificações da vida intelectual, mas em atacar a vida intelectual em si mesma. Segundo Ronald Robson, quanto mais autêntica é a vida do intelecto, mais perigosa ela é para o indivíduo, o qual terá de aprender a conviver com os riscos da investigação intelectual livre.
O autor – Ronald Robson (São Luís, 1988) é autor de Conhecimento por presença: em torno da filosofia de Olavo de Carvalho (Vide, 2020) e O mínimo sobre Olavo de Carvalho (O Mínimo, 2023). Organizou O que restou de 22: uma semana na contramão da história (7Selo, 2022) e editou Nabuco – Revista Brasileira de Humanidades (2014-2016). Tradutor e doutorando em teoria e história literária (Unicamp), mantém o site ronaldrobson.com.
Esta resenha não tem a intenção de substituir a leitura do livro. Se você gostou dela e deseja ajudar na continuação de nosso trabalho, você pode adquirir esse e diversos outros títulos no site da Edições Kírion usando nosso cupom, DIARIO5, para garantir um desconto especial no momento da compra.
Você pode apoiar nosso projeto através de um Pix de qualquer valor. Agradecemos imensamente pelo seu apoio! Chave Pix: diariointelectualcontato@gmail.com