Uma Lista de Leitura Recomendada – Mortimer J. Adler

A seguinte lista de leitura recomendada pelo Mortimer J. Adler (1902-2001) encontra-se no seu best seller How to Read a Book: The Classic Guide to Intelligent Reading. Segundo Adler, a leitura destes livros e o esforço para compreendê-los irá melhorar as habilidades de leitura de quem se empenhar nessa jornada.

“…tais são as obras que todos devem fazer um esforço especial para buscar. São os livros verdadeiramente grandes; são os livros que qualquer pessoa deve escolher levar consigo para sua própria ilha deserta.”


Nas seguintes páginas há uma lista de livros que vale a pena ler. Entendemos a expressão “vale a pena” com muita seriedade. Embora nem todos os livros listados sejam “grandes” em qualquer dos significados comumente aceitos do termo, todos eles o recompensarão pelo esforço que você fizer para lê-los. Todos esses livros superam a mentalidade da maioria das pessoas — o suficiente para, de qualquer modo, forçar a maioria dos leitores a esforçar sua mente para compreendê-los e apreciá-los. E esse, é claro, é o tipo de livro que você deve procurar, se quiser melhorar suas habilidades de leitura e, ao mesmo tempo, descobrir o melhor que foi pensado e dito em nossa tradição literária. 

Alguns dos livros são excelentes no sentido especial do termo que empregamos no último capítulo. Ao retornar a eles, você sempre encontrará algo novo, muitas vezes várias coisas. Eles são sempre relegíveis. Outra maneira de dizer isso é dizer que alguns dos livros — não diremos exatamente quantos, nem tentaremos identificá-los, pois até certo ponto trata-se de um julgamento individual — estão além dos limites da mentalidade de todos os leitores, por mais habilidosos que sejam. Como observamos no último capítulo, tais são as obras que todos devem fazer um esforço especial para buscar. São os livros verdadeiramente grandes; são os livros que qualquer pessoa deve escolher levar consigo para sua própria ilha deserta.

A lista é longa, e pode parecer um pouco assustadora. Pedimos que você não se deixe abater por ela. Em primeiro lugar, é provável que você reconheça os nomes da maioria dos autores. Não há nada aqui que seja tão obscuro a ponto de ser esotérico. Mais importante, queremos lembrar que é sábio começar com aqueles livros que mais lhe interessam, por qualquer razão. Como já assinalamos várias vezes, o objetivo principal é o de ler bem, não em grande escala. Você não deve se decepcionar se não ler mais do que um punhado dos livros em um ano. A lista não é algo que se possa concluir em qualquer período de tempo. Não é um desafio que você possa enfrentar apenas terminando cada item da lista. Ao invés disso, é um convite que você pode aceitar graciosamente, começando por onde se sentir à vontade. 

Os autores são listados cronologicamente, de acordo com a data conhecida ou suposta de seu nascimento. Quando várias obras de um autor são listadas, elas também são ordenadas cronologicamente, onde isso é possível. Os estudiosos nem sempre concordam sobre a primeira publicação de um livro, mas não é necessário que isso te preocupe. O ponto a lembrar é que a lista como um todo avança através do tempo. Isso não significa necessariamente que você deve lê-la cronologicamente, é claro. Você pode até começar com o final da lista e lê-la ao contrário, até Homero e o Antigo Testamento. 

Não listamos todas as obras de todos os autores. Geralmente citamos apenas os títulos mais importantes, selecionando-os, no caso de livros expositivos, para mostrar a diversidade da contribuição de um autor para diferentes campos de aprendizagem. Em alguns casos, listamos as Obras de um autor e especificamos, entre parênteses, os títulos que são especialmente importantes ou úteis. 

Na elaboração de uma lista deste tipo, a maior dificuldade sempre surge com relação aos itens relativamente contemporâneos. Quanto mais próximo um autor está de nosso próprio tempo, mais difícil é exercer um juízo imparcial sobre ele. É muito bom dizer que o tempo dirá, mas talvez não queiramos esperar. Assim, com relação aos escritores e livros mais recentes, há muito espaço para diferenças de opinião, e não reivindicaríamos para os últimos itens de nossa lista o grau de autoridade que podemos reivindicar para os primeiros. 

Pode haver diferenças de opinião sobre alguns dos itens anteriores também, e podemos ser acusados de ter preconceitos contra alguns autores que não listamos de forma alguma. Estamos dispostos a admitir que isso pode ser verdade, em alguns casos. Esta é nossa lista, e pode ser diferente em alguns aspectos das listas elaboradas por outros. Mas não será muito diferente se todos concordarem seriamente com o objetivo de criar um programa de leitura no qual valha a pena passar uma vida inteira. No final, é claro, você deve fazer sua própria lista, e depois começar a trabalhar nela. É sábio, entretanto, ler um número razoável de livros que foram aclamados unanimemente antes de se ramificar por conta própria. Esta lista é um lugar por onde começar. 

Queremos mencionar uma omissão que pode parecer infeliz para alguns leitores. A lista contém apenas autores e livros ocidentais; não há obras em chinês, japonês ou indiano. Há várias razões para isso. Uma é que não somos particularmente conhecedores para além da tradição literária ocidental, e nossas recomendações teriam pouco peso. Outra é que não existe no Oriente uma tradição única, como existe no Ocidente, e nós teríamos que conhecer todas as tradições orientais para realizar bem o trabalho. Há muito poucos estudiosos que têm esse tipo de conhecimento sobre todas as obras do Oriente. Em terceiro lugar, é preciso aprender algo a respeito de sua própria tradição antes de tentar compreender a de outras partes do mundo. Muitas pessoas que hoje tentam ler livros como o I Ching ou o Bhagavad-Gita estão perplexas, não só pela dificuldade inerente a tais obras, mas também porque não aprenderam a ler bem praticando com as obras mais acessíveis — mais acessíveis a elas — de sua própria cultura. E por último, a lista já é longa o suficiente. 

Uma outra omissão requer comentários. A lista, sendo uma de livros, inclui os nomes de poucas pessoas conhecidas primariamente como poetas líricos. Alguns dos escritores da lista escreveram poemas líricos, é claro, mas eles são mais conhecidos por outras obras mais longas. Esse fato não deve ser tomado como reflexo de um preconceito de nossa parte contra a poesia lírica. No entanto, recomendamos começar com uma boa antologia de poesia e não com as obras coletadas de um único autor. Palgrave’s The Golden Treasury e The Oxford Book of English Verse são excelentes lugares para se começar. Essas antologias mais antigas devem ser complementadas por outras mais modernas — por exemplo, One Hundred Modern Poems de Selden Rodman, uma coleção amplamente disponível em brochura que amplia de forma interessante a noção sobre um poema lírico. Como a leitura de poesia lírica requer habilidade especial, também recomendamos qualquer um dos vários manuais disponíveis sobre o assunto — por exemplo, A Introdução à Poesia de Mark Van Doren, uma antologia que também contém pequenas discussões sobre como ler muitas líricas famosas. 

Listamos os livros por autor e título, mas não tentamos indicar uma editora ou uma edição em particular. Quase todas as obras da lista estão disponíveis de alguma forma, e muitas estão disponíveis em várias edições, tanto em brochura como em capa dura. No entanto, indicamos quais autores e títulos estão incluídos em dois conjuntos que nós mesmos editamos. Títulos incluídos no Great Books of the Western World são identificados por um único asterisco; os autores representados no Gateway to the Great Books são identificados por um asterisco duplo.

Observação: Apesar do Adler não indicar edições específicas, tentamos reunir — na medida do possível — as melhores edições das obras que se encontram disponíveis na língua portuguesa. As obras que ainda não possuem tradução foram disponibilizadas em inglês e estão indicadas por uma “🇺🇸” após o título do livro.

  1. Homero (século IX a.C. ?)
  2. Velho Testamento
  3. Ésquilo (c. 525-456 a.C.)
  4. Sófocles (c 495-406 a.C.)
  5. Heródoto (c. 484-425 a.C.)
  6. Eurípedes (c. 485-406 a.C.)
  7. Tucídides (c. 460-400 a.C.)
  8. Hipócrates (c. 460-377? a.C)
  9. Aristófanes (c. 448-380 a.C.)
  10. Platão (c. 427-347 a.C.)
  11. Aristóteles (c. 384-322 a.C.)
  12. Epicuro (c. 341-270 a.C.)**
  13. Euclides (fl. c. 300 a.C.)
  14. Arquimedes (c. 287-212 a.C.)
    • Obras 🇺🇸 On the Equilibrium of Planes, On Floating Bodies, The SandReckoner)*
  15. Apolônio de Perga (fl. c. 240 a.C.)
  16. Cícero (106-43 a.C.)**
  17. Lucrécio (c. 95-55 a.C.)
  18. Virgílio (70-19 a.C.)
  19. Horácio (65-8 a.C.)
  20. Lívio (58- a.C. – 17 d.C.)
  21. Ovídio (43 a.C. – 17 d.C.)
  22. Plutarco (c. 45-120)**
  23. Tácito (c. 55-117)**
  24. Nicômaco de Gerasa (fl. c. 100)
  25. Epicteto (c. 60- 120)**
  26. Ptolomeu (c. 100-178; fl. 127-151)
  27. Luciano (c. 120-c. 1 90)**
    • Obras 🇺🇸 (especialmente The Way to Write History, The True History, The Sale of Creeds)
  28. Marco Aurélio (121-180)
  29. Galeno (c. 130-200)
  30. Novo Testamento
  31. Plotino (205-270)
  32. Santo Agostinho (354-430)
  33. A Canção de Rolando (século XII?)
  34. A Canção do Nibelungo (século XIII)
  35. A Saga de Njal
  36. Santo Tomás de Aquino (c. 1225-1274)
  37. Dante Alighieri (1265-1321)**
  38. Geoffrey Chaucer (c. 1340-1400)
  39. Leonardo da Vinci (1452-1519)
  40. Nicolau Maquiavel (1469- 1527)
  41. Erasmo de Rotterdam (c.1469-1536)
  42. Nicolau Copérnico (1473-1543)
  43. Thomas More (c. 1478-1535)
  44. Martinho Lutero (1483-1546)
  45. François Rabelais (c.1495-1553)
  46. João Calvino (1509- 1564)
  47. Michel de Montaigne (1533-1592)
  48. William Gilbert (1540- 1603)
  49. Miguel de Cervantes (1547-1616)
  50. Edmund Spenser (c. 1552-1599)
  51. Francis Bacon (1561-1626)**
  52. William Shakespeare (1564-1616)
  53. Galileu Galilei (1564-1642)**
  54. Johannes Kepler (1571-1630)
  55. William Harvey (1578-1657)
  56. Thomas Hobbes (1588-1679)
  57. René Descartes (1596-1650)
  58. John Milton (1608-1674)
  59. Molière (1622-1673)**
  60. Blaise Pascal (1623-1662)
  61. Christian Huygens (1629-1695)
  62. Espinosa (1632-1677)
  63. John Locke (1632-1704)
  64. Jean Baptiste Racine (1639-1699)
  65. Isaac Newton (1642-1727)
  66. Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1716)
  67. Daniel Defoe (1660-1731)**
  68. Jonathan Swift (1667-1745)**
  69. William Congreve (1670-1729)
  70. George Berkeley (1685-1753)
  71. Alexander Pope (1688-1744)
  72. Charles de Secondat, barão de Montesquieu (1689-1755)
  73. Voltaire (1694-1778)**
  74. Henry Fielding (1707-1754)
  75. Samuel Johnson (1709-1784)**
  76. David Hume (1711-1776)** 
  77. Jean Jacques Rousseau (1712-1778)**
  78. Laurence Sterne (1713-1768)
  79. Adam Smith (1723-1790)
  80. Immanuel Kant (1724-1804)**
  81. Edward Gibbon (1737-1794)
  82. James Boswell (1740-1795)
  83. Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794)
  84. John Jay (1745-1829), James Madison (1751-1836) e Alexander Hamilton (1757-1804)
  85. Jeremy Bentham (1748-1832)
  86. Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)
  87. Jean-Baptiste Joseph Fourier (1768-1830)
  88. Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831)
  89. William Wordsworth (1770-1850)
  90. Samuel Taylor Coleridge (1772-1834)
  91. Jane Austen (1775-1817)
  92. Karl von Clausewitz (1780-1831)**
  93. Stendhal (1783-1842)
  94. George Gordon, Lord Byron (1788-1824)
  95. Arthur Schopenhauer (1788-1860)**
  96. Michael Faraday (1791-1867)**
  97. Charles Lyell (1797-1867)**
  98. Auguste Comte (1798-1857)
  99. Honoré de Balzac (1799-1850)**
  100. Ralph Waldo Emerson (1803-1882)**
  101. Nathaniel Hawthorne (1804-1864)**
  102. Alexis de Tocqueville (1805-1859)**
  103. John Stuart Mill (1806-1873)**
  104. Charles Darwin (1809-1882)**
  105. Charles Dickens (1812-1870)**
  106. Claude Bernard (1813-1878)**
  107. Henry David Thoreau (1817-1862)**
  108. Karl Marx (1818-1883)
  109. George Eliot (1819-1880)
  110. Herman Melville (1819-1891)**
  111. Fiódor Dostoiévski (1821-1881)**
  112. Gustave Flaubert (1821-1880)**
  113. Henrik Ibsen (1828-1906)
  114. Leon Tolstói (1828 -1910)
  115. Mark Twain (1835-1910)**
  116. William James (1842-1910)**
  117. Henry James (1843-1916)**
  118. Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900)
  119. Jules Henri Poincaré (1854-1912)
  120. Sigmund Freud (1856-1939)
  121. George Bernard Shaw (1856-1950)**
  122. Max Planck (1858-1947)**
  123. Henri Bergson (1859-1941)
  124. John Dewey (1859-1952)**
  125. Alfred North Whitehead (1861-1947)**
  126. George Santayana (1863-1952)**
  127. Vladímir Lênin (1870-1924)
  128. Marcel Proust (1871-1922)
  129. Bertrand Russell (1872-1970)**
  130. Thomas Mann (1875-1955)**
  131. Albert Einstein (1879-1955)**
  132. James Joyce (1882-1941)**
  133. Jacques Maritain (1882-1973)
  134. Franz Kafka (1883-1924)
  135. Arnold Toynbee (1889-1975)
  136. Jean-Paul Sartre (1905-1980)
  137. Alexander Soljenítsin (1918-2008)

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Sobre o Autor ou Tradutor

Bernardo Santos

Aluno do Olavão, bacharel em matemática, amante da Filosofia, tradutor e músico nas horas vagas, Bernardo Santos é administrador principal do Diário Intelectual.

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