A educação moderna, ao invés de ajudar o indivíduo a alcançar o bem, muitas vezes o conduz à mediocridade e até ao vício.
“Cada dia devemos sacrificar o que importa deveras na ordem inferior para obter a aproximação da ordem que é superior. A existência deve ser pensada com hierarquia, guardando sempre o sentido das ordens engrenadas uma na outra e dos sacrifícios obrigatórios”. Jean Guitton
Os dias exigem de nós a capacidade de fazer as melhores escolhas, não as piores. No entanto, em cada afirmação de um filósofo ou estudioso, podemos identificar premissas ocultas. O que são premissas ocultas? São argumentos que não estão explicitamente apresentados, mas que o filósofo ou o autor precisa acreditar para fazer a afirmação que está fazendo.
Por exemplo, se eu pergunto a alguém: “Que horas são?”, qual é a premissa oculta na minha pergunta? A premissa é a crença na existência do tempo. Para perguntar que horas são, preciso acreditar que existe algo chamado “tempo” e uma forma de medi-lo. Se a pessoa consegue me responder, é porque compartilhamos essa crença. Claro, não me peçam para definir o que é o tempo, pois isso já é uma questão filosófica complexa, que, por exemplo, Santo Agostinho dizia não saber responder, mesmo sendo ele um profundo pensador platônico.
Quando o filósofo francês Jean Guitton fala de uma hierarquia de decisões, ele está sugerindo que algumas decisões são melhores que outras. A premissa oculta aqui é a crença de que existe o “bem” e o “mal”. Se existem decisões boas, é porque existe um padrão do que é bom — o bem — e, se existem decisões ruins, é porque existe o mal. Uma decisão ruim é aquela que nos afasta do bem e nos aproxima do mal.
Essa visão não é invenção de filósofos contemporâneos como Jean Guitton, mas reflete a filosofia socrática, que é a base da filosofia ocidental. Sócrates, embora não tenha deixado escritos, foi o mestre de Platão, que desenvolveu suas ideias. Platão via a realidade como uma hierarquia, na qual o bem supremo, o sumo bonum, ocupa o topo da escala e a ignorância, ou o mal, ocupa a base. Para ele, o mal é, na sua essência, a ignorância — a falta de conhecimento. A filosofia platônica é, em essência, um projeto educacional, questão que Julius Stenzel abordou formidavelmente bem no clássico “Platão educador”.
Para Platão, o homem está entre o bem supremo e o mal absoluto. A moralidade, segundo ele, está relacionada às escolhas que fazemos ao longo de nossas vidas, desde o momento em que acordamos até o momento em que dormimos. A cada escolha, estamos nos aproximando ou nos afastando do bem.
Nos tempos modernos, no entanto, muitos filósofos e estudiosos questionam a existência de um padrão de bem e mal, como se as ações não pudessem ser classificadas como boas ou más, apenas diferentes. Essa visão é conhecida como relativismo moral, que nega a hierarquia do bem e do mal, e não aceita uma visão universal dos valores. Para o relativismo moral, a moralidade de uma ação depende do ponto de vista cultural, e não existe um bem absoluto. Eu, pessoalmente, não acredito nessa visão.
A premissa oculta por trás da hierarquia de decisões é que precisamos tomar decisões que nos aproximem do bem, pois existem bens maiores e bens menores. A educação, nesse contexto, é fundamental. Para Platão, a educação não é apenas um processo de acumular conhecimento, mas sim um meio de nos direcionar ao bem supremo. Já a premissa por detrás do relativismo moral é a de que não existe bem e mal. Bem e mal são conceitos puramente arbitrários e subjetivos.
Nos tempos de ouro da educação grega, a educação tinha como objetivo cultivar as virtudes e preparar o ser humano para agir de acordo com o bem. Hoje, no entanto, a educação foi muitas vezes reduzida a um processo técnico de passar em provas e obter diplomas. A verdadeira educação, para Platão, deve guiar o indivíduo para o seu próprio bem, removendo os vícios e cultivando as virtudes. Uma educação que não tem esse propósito é, na verdade, uma “anti-educação”, pois está desviando o homem do seu fim último.
A educação moderna, ao invés de ajudar o indivíduo a alcançar o bem, muitas vezes o conduz à mediocridade e até ao vício. A escolha de não cultivar princípios e valores que orientem a nossa ação nos leva a escolhas erradas, que nos afastam do bem. A verdadeira educação não está apenas em saber de cor o que está no livro, mas em transformar esse conhecimento em algo que faça parte de nossa essência. A educação genuína vai além da erudição, é o que nos torna mais humanos e sábios.
Por exemplo, a Bíblia nos ensina a escrever os mandamentos de Deus “na tábua do meu coração“, ou seja, o conhecimento deve estar internalizado, não apenas registrado na mente. A diferença entre a religião e a filosofia está na mesma busca pela verdade, mas com caminhos diferentes. A filosofia, se feita corretamente, assim como a religião, deve nos levar à verdade. E essa verdade, para os cristãos, é Jesus Cristo, como Ele mesmo disse: “Eu sou a verdade.” Tanto é assim que Santo Agostinho foi capaz de exclamar: “Em ti senhor, reside a sabedoria! Ora, o amor à sabedoria, pelo qual eu me apaixono com esses estudos, tem o nome grego de filosofia.”
O modelo educacional contemporâneo, que deriva em grande parte dos sofistas, resulta em uma educação que muitas vezes está desvinculada de princípios morais sólidos. O relativismo moral tem se espalhado tanto nas escolas quanto nas universidades, gerando um ambiente onde qualquer opinião é válida e a busca pela verdade é secundária. Em um sistema onde “cada um tem sua própria verdade”, a educação perde seu propósito maior de formar cidadãos com valores universais e morais.
Na prática, isso cria uma sociedade sem uma base moral comum, onde as escolhas individuais são justificadas por fatores externos, como a pobreza ou a desigualdade social. Como exemplo, no caso recente de um crime em Minas Gerais, a justificativa de que a pobreza seria a causa de um crime brutal levanta questionamentos sobre a real motivação do ato. Se tudo pode ser justificado, então a educação, que deveria ajudar a formar um caráter sólido, acaba sendo desvirtuada.
Um dos grandes problemas da educação moderna é justamente essa divisão do ser humano, como se o homem não tivesse alma. Vamos supor, por um momento, que somos apenas animais, que não viemos de Deus, que não temos alma, e que não existe uma metafísica. Se fôssemos pensar dessa forma, estaríamos nos enganando, acreditando que tudo é apenas biológico e neurológico, sem qualquer dimensão espiritual. Assumindo esse modelo educacional, não deveria ser espanto para ninguém que surja no Ensino Superior, ou seja, dentro da Academia, um pesquisador que garanta educar com c*.
São Luís, dia de Nossa Senhora das Graças.
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