James e Whitehead (parte I) — Paul Stenner

Montagem e Sistematização de uma Filosofia Mosaica e Profundamente Empirista.


Resumo: Este trabalho contribui para um corpo crescente de trabalho filosófico e psicológico que traça paralelos entre os escritos de William James e Alfred North Whitehead1. Na Parte I, apresento a distinção de Whitehead entre montagem e sistematização (seção 1) e sugiro que a filosofia de Whitehead foi, em parte, uma sistematização da montagem psicológica e filosófica de James (seção 2). A sistematização é baseada em um repensar do contraste entidade/função (seção 3) por meio do conceito de Whitehead da entidade/ocasião atual (seção 4). Isso permite uma extensão ontológica do processo e a noção de experiência pura de James (seções 5 e 6), o que produz uma versão mais profunda do empirismo radical (seção 7). As quatro seções da Segunda Parte constroem um argumento mais específico de que as distinções frequentemente implícitas de James entre modos de experiência energética, perceptiva, conceitual e discursiva podem ser sistematizadas por meio dos conceitos de eficácia causal, imediatismo presentacional e referência simbólica de Whitehead. Seguindo a sugestão do famoso trabalho Ceci n’est pas une Pipe de Magritte, isso produz uma análise da soma da experiência humana em quatro fatores progressivamente integrados: poder, imagem, proposição e enunciação.

  1. Montagem e Sistematização
  2. Sobre a Cristalização de “Aspirações Vagamente Semelhantes”
  3. O que é uma Entidade? 
  4. A Unidade Básica de Whitehead: A Entidade Atual
  5. A Preensão Ontológica de Whitehead da Psicologia Jamesiana
  6. A Unidade Básica de James: A Experiência Pura
  7. Empirismo Radical e Empirismo Profundo
    Notas
    Bibliografia

Parte I

1. Montagem e Sistematização

Sou da opinião que Whitehead (1861-1947) sistematiza o corpo de pensamento montado por William James (1842-1910). Especificamente, sugiro que, através de seu conceito de entidade/ocasião atual, Whitehead sistematiza o empirismo radical de James em um “empirismo profundo”2 que empresta novo peso e profundidade à visão de James de uma filosofia “mosaica” não- ou auto-fundacional. Estes dois termos — montagem e sistematização — são usados por Whitehead em seu último livro, Modos de Pensamento. O sistema é importante, sugere ele, mas antes que se dê seu início, precisamos atender cuidadosamente ao trabalho anterior de montagem. Isso porque o trabalho de sistematização pressupõe uma coleção restrita de idéias primárias, e ele critica essas idéias gerais com métodos especializados. A montagem é o trabalho de elaboração, cultivo e entretenimento dessas idéias primárias mais gerais. Quando a sistematização é aplicada a um parco conjunto de idéias, o resultado é pedantice e exclusão. Essa sensibilidade que Whitehead mostra quanto aos perigos da sistematização prematura é importante. Considere, por exemplo, que ele caracterizou toda a vida intelectual de James como “um protesto contra a destituição da experiência em prol do sistema.”3.

O que é valioso sobre a sistematização de Whitehead é que ela retém e aprofunda o argumento central “empirista radical” de James segundo o qual toda a realidade é experiencial.4 Esse aprofundamento do empirismo radical, entretanto, estende o conceito de experiência para muito além do território psicológico preferido por James em termos de experiência humana consciente. No pensamento de Whitehead, a noção de experiência torna-se um conceito ontológico que está implicado em todos os eventos, sejam eles ‘psicológicos’, ‘biológicos’, ‘químicos’ ou ‘físicos’. Em um memorando datado exatamente um mês antes de sua morte, James observou que seu sistema permanece “muito parecido com um arco erguido apenas de um lado”5. Whitehead ‘arredonda’ esse sistema, complementando o foco de James no psicológico com uma atenção ao território associado também às chamadas ciências naturais. Juntos, James e Whitehead forjam um modo revolucionário de pensamento, ainda a ser amplamente apreciado, que atravessa disciplinas, apóia a ação política progressiva e coloca idéias, sentimentos e valores de volta ao mundo.

2. Sobre a Cristalização de “Aspirações Vagamente Semelhantes”

William James, com a modéstia característica, expressou a esperança de que um dia seu Weltanschauung, ou padrão de pensamento, pudesse servir como núcleo para a cristalização de um sistema respeitável de filosofia. Apesar dessa modéstia, ele estava muito consciente — no final de sua vida — de que seu tipo de pensamento poderia ser parte de uma “grande desestabilização”6 dentro da filosofia moderna que estava “na véspera” de um “considerável rearranjo”7. Em parte por causa da prioridade que seu pensamento dá às partes em vez do total ou aos fatos em vez dos princípios, ele deu o nome de “empirismo radical” a sua Weltanschauung, e por considerar tais fatos da experiência como sendo plurais, ele se referiu ao empirismo radical como uma “filosofia mosaica”8. James identificou a gestação em questão no seu próprio estilo de pensar não apenas com o pragmatismo de Peirce, Dewey e companhia, mas também com Bergson na França, embora ele descrevesse isso como sendo apenas uma “identidade fraca”9. A mudança estava no ar da filosofia, e, nessa atmosfera, ele sugere no início de seu ensaio, The Experience of Activity, que “em quase todos os dias um homem com um gênio para encontrar a palavra certa para as coisas pode atingir alguma fórmula unificadora e conciliadora que fará com que tantas aspirações vagamente semelhantes se cristalizem em uma forma mais definida”10.

No prefácio de Processo e Realidade, Whitehead anuncia exatamente esse tipo de ambição quando expressa sua dívida para com Bergson, James e Dewey e descreve sua “preocupação” quanto a “resgatar seu tipo de pensamento da acusação de anti-intelectualismo”. Whitehead admirava muito William James e o considerava como tendo desempenhado um papel fundamental na abertura de uma nova época para a filosofia. No primeiro capítulo d’A Ciência e do Mundo Moderno ele se refere a James como um “gênio adorável”, nada menos, e no capítulo sobre ciência e filosofia ele comparou o ensaio de James, A Consciência Existe?, com o Discurso de Descartes sobre o Método, de 1637, atribuindo a James “a inauguração de uma nova etapa da filosofia”.11 A tônica dessa nova etapa é o processo, e a articulação de uma ontologia do processo requer um repensar radical do conceito de entidade.

3. O que é uma Entidade? 

Apesar dos grandes elogios, Whitehead viu espaço para melhorias na filosofia de James.12 Em A Consciência Existe?, por exemplo, James insiste que a consciência não é uma entidade, mas que é uma função, e que sua função é conhecer. Enquanto Whitehead concorda plenamente com a crítica completa da substância do pensamento cartesiano em jogo aqui, ele ainda assim critica gentilmente James por não explicar o que ele quer dizer com uma “entidade” ou com a palavra “coisas”. Essas palavras, ele aponta, não contam sua própria história e na verdade a noção de “entidade” é tão geral que poderia significar qualquer coisa que pudesse ser pensada. Nesse caso, mesmo uma função seria uma espécie de entidade.

Esse questionamento sobre o significado de “entidade” não é um mero jogo de palavras da parte de Whitehead. Na verdade, sugiro que a principal contribuição de Whitehead para a sistematização do tipo de pensamento de James é seu esforço contínuo para gerar um conceito viável de “entidade” que, para empregar os termos de James, não impede que as entidades também sejam funções. A maior parte de sua filosofia do organismo, por exemplo, é dedicada a um esclarecimento geral sobre o status de uma entidade atual. A doutrina positiva de Processo e Realidade, afirma Whitehead, “está preocupada com o devir, o ser e a relação de ‘entidades atuais'”. As ‘entidades atuais’ — também chamadas de ‘ocasiões atuais’ — são as coisas reais finais das quais o mundo é composto”.13 A noção de Whitehead de uma entidade é compatível com a noção de James de uma função, uma vez que, como examinaremos na seção seguinte, uma entidade atual não é uma coisa estática (uma coisa que perdura), mas um organismo primário cuja principal característica é a atividade de possibilidades de padrões em atualidades (uma coisa que ocorre).

Efetivamente, ao repensar o conceito básico de “entidade”, Whitehead está recusando uma posição segundo a qual algumas coisas no universo são entidades fundamentais e estáticas, enquanto outras coisas, que não são entidades dessa maneira, poderiam, ao invés disso, ter a qualidade de serem processos ou funções. Whitehead, pelo contrário, persegue a idéia de que todas as coisas atuais estão em processo. Isso inclui aquelas coisas que nossa limitada inteligência entende inadequadamente como entidades estáticas. Coisas aparentemente sólidas e estáticas, como montanhas, estão de fato implicadas em processos geológicos como a tectônica de placas e a erosão, por exemplo. Qualquer falha em apreender isso é uma função da duração relativamente curta das funções sensoriais e cognitivas humanas não amparadas.

O fato de James manter essa distinção entre entidade e função é um sintoma do fato de que, apesar de sua maior sintonia com a psicologia humana, James nunca desenvolveu sistematicamente uma metafísica do processo completa. Ou seja, ele nunca desenvolveu completamente uma ontologia que estendesse a tônica do processo muito além das atividades da experiência humana para abranger todas as coisas. Essa não é uma afirmação original. Como disse Victor Lowe, “a doutrina de que a experiência vem em gotas ou pulsos, cada uma das quais sendo uma unidade indivisível, encontra-se na psicologia de William James; mas James nunca esboçou um sistema do mundo com base nisso”14. Eisendrath faz uma observação semelhante quando constata que “James reforma Descartes, eliminando a alma e permitindo que os próprios pensamentos alcancem a unidade subjetiva no campo consciente. Sua análise é limitada à consciência; a de Whitehead se estende a todo o organismo”15. Ainda com referência à teoria da “gema” da unidade subjetiva de James, Pred sugere que, embora tenha influenciado claramente Whitehead, este último “foi muito mais longe na formação da gema do que James sabia ser possível e elaborou um monismo abrangente que estava além do alcance de James”.16 Uma vez que estou sugerindo que o conceito de entidade atual serve para sistematizar a noção de experiência pura de James, antes de me voltar para a “experiência pura” devo primeiro examinar a unidade básica de Whitehead.

4. A Unidade Básica de Whitehead: A Entidade Atual

a) A Natureza Atômica das Ocasiões Atuais

Levar a sério a idéia de que todas as coisas podem estar “em processo” exige consideravelmente mais do que o reconhecimento de processos como a tectônica de placas e a erosão. Para entender melhor o verdadeiro conceito de ocasião/entidade de Whitehead é preciso entender que se trata de um conceito atômico. Sendo um famoso matemático e físico teórico antes de sua carreira como filósofo, Whitehead estava mais consciente do que a maioria do fato de que, durante sua vida, “os fundamentos estáveis da física […] se romperam”.17 A teoria da relatividade e a teoria quântica efetivamente tornaram “os velhos fundamentos […] ininteligíveis”, e um aspecto central desses velhos fundamentos era a idéia de átomos materiais irredutíveis cuja resistência com “localização simples” no espaço supostamente fornece os blocos básicos da construção do universo. Tais átomos forneceriam as bases para todos os processos físicos, mas não seriam eles mesmos processos. Durante um período de tempo relativamente curto, essa noção “mecânica” de um substrato passivo de pedaços de matéria autocontida deu lugar a uma concepção da matéria como sendo a modificação da energia: pura atividade. Na nova visão científica:

Os conceitos fundamentais são atividade e processo. Não há essencialmente atividades autônomas dentro de regiões limitadas. Essas relações geométricas passivas entre as regiões passivas que ocupam os substratos passaram para fora de cena. A natureza é um teatro para as inter-relações de atividades. Todas as coisas mudam, as atividades e suas inter-relações. Para esse novo conceito, a noção de espaço com sua relação passiva, sistemática e geométrica é totalmente inapropriada. Assim, ela varreu o espaço e a matéria, e substituiu o estudo das relações internas dentro de um complexo estado de atividade. Tal estado complexo é, em certo sentido, uma unidade. Há todo o universo da ação física que se estende até o mais remoto aglomerado estelar.18

Whitehead estava muito consciente da necessidade de um conceito atômico alternativo que pudesse substituir o agora obsoleto conceito de substância, e em 1920 ele colocou o problema nos seguintes termos: “Se tivermos que procurar a substância em qualquer lugar, eu deveria encontrá-la em eventos que são, de certa maneira, a substância última da natureza”.19 Sete anos depois, em Processo e Realidade, sua terminologia havia mudado de eventos para ocasiões/entidades atuais, sendo esta última definida como o tipo limitante de evento (com apenas um membro). Em poucas palavras, a doutrina de Whitehead sobre a ocasião atual coloca as coisas que ocorrem (eventos ou ocasiões) antes das coisas que perduram (o antigo conceito de “entidade”) e, portanto, faz do conceito de processo a base atômica de todas as coisas.

b) A Natureza Organísmica das Ocasiões Atuais

Tal maneira de pensar reconfigura radicalmente nossos modos básicos de pensamento. A idéia de um átomo material fundamental tinha apoiado uma concepção bifurcada do universo na qual questões de experiência estavam associadas à subjetividade humana de alto nível e se mantinham separadas de um conceito objetivo da natureza como sendo uma externalidade material bruta sobre a qual o conceito de experiência não possui nenhuma contrapartida (um empirismo “superficial”). A noção atômica de Whitehead de uma entidade atual, em contraste, é modelada sobre a imagem de um organismo primário que passa por uma experiência. Whitehead concebe assim os tipos de ocasiões atuais naturais tratadas na física como eventos ou ocasiões “entretendo ” e “padronizando” um locus de energia:

Qualquer outra ocasião [física] que possa ser, é um fato individual que abriga essa energia. As palavras elétron, próton, onda-moção, velocidade, radiação dura e suave, elementos químicos, […] todos apontam para o fato de que a ciência física reconhece diferenças qualitativas entre ocasiões no que diz respeito à forma como cada ocasião entretém sua energia.20

Deve ficar claro que o conceito de ocasião atual de Whitehead não se aplica apenas às “experiências” humanas, mas é uma noção ontológica que estende um modelo de experiência a todos os processos naturais. A “filosofia do organismo” de Whitehead, em outras palavras, não se contentou em estender o conceito de experiência para incluir os processos de vida dos organismos biológicos. Para ele, o verdadeiro desafio era apresentar uma filosofia unitária de imanência radical (sem nada “fora” da natureza) capaz de expressar a continuidade que existe entre a experiência humana de alto grau, em um extremo, e a matéria de física, no outro:

Uma ocasião da experiência que inclui uma mentalidade humana é uma instância extrema, em um extremo da escala, daqueles acontecimentos que constituem a natureza. Até agora, esta discussão tem fixado a atenção sobre este extremo. Mas qualquer doutrina que se recuse a colocar a experiência humana fora da natureza deve encontrar nas descrições dos fatores da experiência humana fatores que também entram nas descrições de ocorrências naturais menos especializadas. Se não houver tais fatores, então a doutrina da experiência humana como um fato dentro da natureza é mero blefe, baseado em frases vagas cujo único mérito é uma familiaridade reconfortante. Devemos admitir o dualismo, pelo menos como uma doutrina provisória, ou devemos apontar os elementos idênticos que conectam a experiência humana com a ciência física.21

c) A Natureza Ontológica das Ocasiões Atuais

Como metafísico sistemático, Whitehead visava assim nada menos que uma descrição ontológica genérica que, sem negar diferenças importantes, seria aplicável a todas as ocasiões atuais em todos os tempos, desde as que compõem um elétron, passando pelas que compõem um organismo unicelular, até aquelas que compõem o ser pessoal do leitor deste texto. Tal tarefa exige um repensar radical do velho dualismo bifurcado sujeito/objeto, mas, o que é importante, não exige seu abandono. Pelo contrário, o conceito de entidade atual multiplica o dualismo sujeito/objeto e o distribui ao longo de toda uma natureza repensada como um processo contínuo de expansão (à medida que novas micro experiências se baseiam nas expressões das micro experiências anteriores). É importante, portanto, que a relação sujeito/objeto não seja mais concebida em termos epistemológicos como um “conhecedor” consciente representando um objetivo “conhecido”, mas em termos ontológicos como uma atividade criativa (por parte de tal ocasião) que empresta forma atual aos dados que compõem o universo herdado daquela ocasião. Cada ocasião da atualidade é o processo de um “sujeito” que empresta forma ou padrão aos objetos implicados em seu campo momentâneo de atividade:

Assim, a palavra Quaker “preocupação”, despojada de qualquer sugestão de conhecimento, é mais adequada para sugerir tal estrutura fundamental. A ocasião como sujeito tem uma “preocupação” com o objeto. E a “preocupação” de imediato coloca o objeto como um componente na experiência do sujeito, com um tom afetivo tirado desse objeto e direcionado para ele. Com essa interpretação, a relação sujeito-objeto é a estrutura fundamental da experiência.22

A descrição que Whitehead oferece em Processo e Realidade e seus trabalhos posteriores correspondem a uma noção de uma ocasião/entidade atual como uma atividade de realização pela qual um sujeito se preocupa com seus múltiplos dados, remetendo-os para uma nova unidade no processo.

d) A Natureza Auto-realizante das Ocasiões Atuais

Whitehead refere-se a essa atividade de realização em termos de um complexo de preensões em que, quando essas preensões são “positivas” (ou seja, quando os dados são aceitos na constituição do sujeito em processo de formação), a ocasião sente seus objetos, compondo-os em uma configuração. Os aspectos incompatíveis dos dados, por outro lado, são negativamente preendidos ou excluídos da atualização. A “experiência” em jogo aqui não é, portanto, uma questão “representativa”, como se a preensão fosse alguma peça de teatro sobre uma realidade ocorrendo em outro lugar. Ao contrário, a experiência é a atividade de realização pela qual a “potencialidade” imanente nos objetos é “atualizada” na forma de um real tornar-se-concreto co-criativo (concrescência). Longe de ser uma “imagem” representativa de um “mundo real”, a subjetividade é o próprio devir da objetividade.

Através da concrescência muitas coisas (objetos, dados) são assim apreendidos ou preendidos através de um processo (ou seja, através da transformação de uma ocasião atual) em uma nova unidade. As muitas se tornam uma só. As potencialidades, por definição, podem ser atualizadas de várias maneiras diferentes, mas, em uma determinada ocasião, de fato, só são atualizadas de uma só maneira. A “experiência”, entendida dessa maneira Whiteheadiana, é, portanto, um processo de síntese conjuntiva. A criatividade é central a esse processo, já que algo novo é acrescentado ao universo pela experiência (ou seja, o próprio padrão é acrescentado): “Os muitos se tornam um e são aumentados em um”.23 Uma vez criada, porém, a experiência (ou seja, o processo de auto-realização considerado em termos de sua própria constituição interna ou em termos do imediatismo de seu próprio gozo) entra no mundo atual como uma “expressão” que, por sua vez, pode ser “sentida” como parte da próxima ocasião da experiência. Portanto, a ocasião considerada em termos de seu próprio processo “interno” de sentir é uma “experiência” e a ocasião considerada como o novo produto disponível desse processo é uma “expressão”. Para utilizar o vocabulário de Processo e Realidade, a experiência é o autodesenvolvimento de um “sujeito” e, uma vez que ele se torna, o resultado é um “superjeto” que toma seu lugar como dados para futuros sujeitos em processo de emergência. Desse modo, o sujeito experimentado não preexiste os objetos que ele preende (superjetos/expressões), mas cria a si mesmo através da sensação que tem deles. O princípio da relatividade de Whitehead baseia-se nessa dinâmica de desdobramento em que o sujeito (experiência) torna-se o superjeito (expressão) que, por sua vez, se torna o objeto de um novo sujeito. Portanto, “pertence à natureza de cada ‘ser’ o fato de que ele é um potencial para cada “tornar-se”” (Whitehead, 1927-28/1985: 45). Uma vez que uma ocasião atual se torna um superjeito determinado, então ela pode desempenhar o papel de um dos muitos objetos que são a preocupação de outra ocasião atual com seu processo de síntese conjuntiva criativa.

e) A Ordenação de Ocasiões Atuais em Continuidades Descontínuas (Sociedade e Nexus)

Uma vez que uma ocasião atual é uma ocorrência pura que não dura no tempo, ela faz uma unidade “atômica” ou “básica” bastante paradoxal. Como explicar nossas experiências rotineiras de continuidade e resistência com base na idéia de que as “coisas completamente reais” são acontecimentos e não perduram no tempo e no espaço? A solução é a de que coisas rotineiramente encontradas, como edifícios, árvores, montanhas e cães — que claramente têm histórias e duram no espaço — não são ocasiões atuais. Elas são ordenações mais ou menos coerentes das muitas ocasiões atuais. Tal nexus de ocasiões pode se espalhar temporária e espacialmente, e assim formar a base do tempo e do espaço. Quando um nexus (um arranjo solto) tem seu próprio modo de ordem emergente auto-sustentável, Whitehead se refere a ele como uma sociedade. As ocasiões que constituem uma sociedade assim compartilham uma “união” auto-sustentável — uma forma socialmente condicionada que flui do fato de suas preensões mútuas. O que chamamos de “planta do tomate”, por exemplo, seria um nexus de ocasiões envolvendo várias sociedades. Algumas ocasiões “sociais” são contíguas, de modo que uma segue a outra de uma maneira que gera “grossura” temporal ou resistência (ou seja, ordem temporal), e algumas são contemporâneas espacialmente relacionadas cujas atividades simultâneas geram uma ordem espacial tridimensional. Essas formas de ordem, portanto, dão origem a fenômenos que tratamos rotineiramente como se estivéssemos lidando com uma única atualidade. Para muitos propósitos, uma sociedade pode de fato ser tratada como uma unidade e possui de fato um grau de “individualidade” auto-sustentável, mas, de fato, qualquer “continuidade” deve ser pensada, em última análise, em relação às “descontinuidades” (ocasiões atômicas) que a compõem. Como veremos mais adiante, a composição em formas cada vez mais complexas de ordem social cria as condições para ocasiões atuais capazes de formas de experiência cada vez mais complexas e intensas, e vice-versa.

5. A Preensão Ontológica de Whitehead da Psicologia Jamesiana

Antes de voltar à noção de experiência pura de James, considerarei ainda como Whitehead se apropria de certos aspectos do pensamento de James em sua nova ontologia, elevando a “psicologia” deste último ao status ontológico das ocasiões atuais ordenadas. Em particular, vou sugerir que o envolvimento de Whitehead com a noção de James sobre a transição co-consciente informa sua solução (apenas esboçada) para o problema de uma base descontínua (atômica) para a continuidade (ou fluxo) natural.

a) O Pensamento é o Pensador (A Criatura Cria a Si Mesma por Meio de Seus Sentimentos)

A distinção entre o micro-cósmico (ocasiões atuais) e o macro-cósmico (nexus e sociedade) resumida na seção 4.5 baseia-se explicitamente na psicologia mais específica de James da “corrente de consciência” na qual ele descreve “momentos” unificados de “pensamento” (átomos “micro”)24 que se unem ao longo do tempo (conjuntos “macro”). De fato, James, em um ou outro estágio, toca em praticamente todas as características de uma ocasião atual rapidamente esboçadas acima. O “sujeito” (o “eu” momentâneo), por exemplo, efetua uma síntese conjuntiva através do “sentir” um “eu” imediatamente passado em um contexto novo. Isso, para James, é um processo “transitório” de auto-realização (uma ave em vôo) que gera um “substantivo” (uma ave empoleirada) que se insere na próxima ocasião do processo de devir. A unificação é para James um processo seletivo através do qual apenas certas possibilidades são atualizadas, e essas “decisões” estão implicadas no desenvolvimento criativo. Tais características, por exemplo, são discerníveis na famosa citação a seguir:

O Eu que conhece [pensamentos] não pode ser um agregado; nem para fins psicológicos precisa ser considerado como uma entidade metafísica imutável como a Alma, ou um princípio como o Ego puro visto como “fora do tempo”. Ele é um Pensamento, a cada momento diferente daquele do último momento, mas apropriado deste último, juntamente com tudo o que este último chamou de seu próprio. […] o pensamento é o próprio pensador, e a psicologia não precisa buscar além.25

Aqui temos uma declaração clara da natureza “atômica” do “pensamento”, que não é nem “um agregado” nem uma coisa “fora do tempo”, mas sim uma série de “momentos”, de onde cada novo momento emerge e “se apropria” de seu predecessor imediato. James também trata do que ele chama de questão de continuidade/descontinuidade muito explicitamente no Capítulo X de Some Problems of Philosophy, onde ele articula uma concepção atômica das “gemas ” ou “gotas” de percepção, e enigmas sobre como essa teoria da descontinuidade (com “certas unidades de quantidade estourando na existência em um golpe”26) pode ser reconciliada com uma teoria da continuidade (“pois se as gotas ou átomos são eles mesmos sem duração ou extensão, é inconcebível que, somando qualquer número deles juntos, tempos ou espaços devam se acumular”). Cada gomo ou gota é uma ocasião de síntese conjuntiva que produz uma nova unidade de experiência a ser herdada, por sua vez, pela próxima “gota”. No Capítulo 2 de Processo e Realidade Whitehead faz com que uma entidade atual seja um ato de experiência, citando explicitamente esta passagem de texto:

A autoridade de William James pode ser citada em apoio a essa conclusão. Ele escreve: “Ou sua experiência não é de conteúdo e de nenhuma mudança, ou é de uma quantidade perceptível de conteúdo ou mudança. Seu conhecimento da realidade cresce literalmente através de gemas ou gotas de percepção. Intelectualmente e em reflexão, você pode dividi-las em componentes, mas tal como imediatamente dado, elas vêm totalmente ou não vêm de todo.27

b) O exemplo da transição co-consciente

James refere-se a essa forma mais íntima de “relação conjuntiva” como sendo a transição co-consciente — ou seja, “a passagem de uma experiência para outra quando pertencem ao mesmo eu”. James contrasta as maneiras em que minhas próprias experiências estão umas com as outras com as maneiras em que minhas experiências e suas experiências estão umas com as outras. Embora eu possa empatizar com a maneira como você se sente, não posso vivenciar suas experiências diretamente — tenho uma experiência de descontinuidade a esse respeito. Em contraste, “O que eu sinto simplesmente quando um momento posterior da minha experiência sucede um momento anterior é que, embora sejam dois momentos, a transição de um para o outro é contínua. A continuidade aqui é um tipo definido de experiência”. Aqui podemos ver a) um conceito de momentos (ocasiões atuais) e b) um conceito de seu arranjo em uma sociedade de tais ocasiões, cada uma seguindo a partir da próxima numa sequência temporal (o que James está aqui chamando de “continuidade”). Por mais insignificante que isso possa parecer, James dá grande importância à transição co-consciente. Considere o seguinte trecho de A World of Pure Experience:

Dentro de cada uma de nossas histórias pessoais, sujeito, objeto, interesse e propósito são contínuos ou podem ser contínuos. As histórias pessoais são processos de mudança no tempo, e a mudança em si é uma das coisas imediatamente experimentadas. Nesse caso, “mudança” significa contínuo em oposição a transição descontínua. Mas transição contínua é um tipo de relação conjuntiva; e ser um empirista radical significa agarrar-se a essa relação conjuntiva de todos os outros, pois esse é o ponto estratégico, a posição através da qual, se for feito um buraco, todas as corrupções da dialética e todas as ficções metafísicas se derramam na filosofia.28

Para demonstrar a intimidade entre os dois pensadores sobre este ponto, cito agora os Modos de Pensamento de Whitehead onde, tendo discutido a derivação básica da experiência do funcionamento corporal, ele enfatiza uma segunda fonte igualmente importante:

Todavia, nossa experiência imediata também reivindica a derivação de outra fonte […] Essa segunda fonte é nosso próprio estado de espírito, diretamente anterior ao presente imediato de nossa experiência consciente. Há um quarto de segundo atrás, estávamos entretendo tais e tais idéias, desfrutando de tais e tais emoções, e fazendo tais e tais observações de fatos externos. Em nosso atual estado de espírito, estamos dando continuidade a esse estado anterior. A palavra “continuidade” diz apenas metade da verdade. Em um sentido é muito fraca, e em outro sentido é exagerada. É muito fraca, porque não apenas continuamos, mas reivindicamos uma identidade absoluta com nosso estado anterior. Ele era nosso próprio e idêntico eu, naquele estado de espírito, que é, naturalmente, a base de nossa experiência presente um quarto de segundo depois. Em outro sentido, a palavra “continuidade” exagera. Pois não continuamos exatamente em nosso estado de experiência anterior. Novos elementos intervieram. Todos esses novos elementos são fornecidos por nossas funções corporais. Fundimos estes novos elementos com o material básico de experiência fornecido por nosso estado de espírito um quarto de segundo atrás. Além disso, como já concordamos, reivindicamos uma identificação com nosso corpo. Assim, nossa experiência no presente revela sua própria natureza como com duas fontes de derivação, a saber, o corpo e os funcionamentos experienciais antecedentes.29 

Whitehead aqui se envolve explicitamente com James, concordando sobre a grande importância desse tipo de experiência de transição, mas modificando ligeiramente a ênfase de James na continuidade a fim de dar mais espaço para sua teoria epocal das ocasiões atuais (sim, continuidade, mas também descontinuidade, pois cada ocasião é uma unidade irredutível que traz novos elementos ao jogo). Esse é um aspecto chave do esforço de Whitehead para “resgatar o pensamento [de James, Bergson e Dewey] da acusação de anti-intelectualismo”, já que uma ênfase excessiva na continuidade aqui pode levar à forma solipsista de subjetivismo de que esses pensadores são frequentemente acusados.30 Whitehead é muito mais claro do que James sobre a causalidade que está em jogo neste tipo de transição co-consciente (e de duas fontes), e que essa causalidade forma a ponte oculta entre a experiência consciente e toda a variedade de eventos que compõem o universo. Whitehead torna isso explícito em Adventures of Ideas quando discute a eficácia causal (voltarei a isso na seção final) sob a descrição da percepção não-sensuada:

Na experiência humana, o exemplo mais convincente de percepção não-sensuosa é nosso conhecimento de nosso próprio passado imediato. Não estou me referindo a nossas lembranças de um passado de um dia, ou de uma hora, ou de um minuto. Tais lembranças são confusas e confundidas pelas ocasiões de intervenção de nossa experiência pessoal. Mas nosso passado imediato é constituído por essa ocasião, ou por esse grupo de ocasiões fundidas, que entra em experiência desprovida de qualquer meio perceptível que interfira entre ela e o fato imediato atual. Grosso modo, é aquela parte de nosso passado que se encontra entre um décimo de segundo e meio segundo atrás. Ela se foi, e ainda assim está aqui.31

Ambos os filósofos dão assim um significado primordial à “transição co-consciente” de James, mas Whitehead universaliza essa importância através de seus conceitos da ocasião atual e de sua coleção em formas duradouras de ordem, estendendo-a assim muito além da experiência humana. As ocasiões atuais que incluem esse tipo de mentalidade humana de alto nível (por exemplo, consciência) estão em um extremo de uma escala de eventos que inclui todos os acontecimentos que constituem a natureza. Whitehead, como discutido anteriormente, é obrigado a incluir esse extremo porque ele se recusa a colocar a natureza humana em uma posição transcendente “fora” da natureza. Características dessa descrição da experiência humana devem, portanto, entrar também em descrições de ocasiões atuais menos complexas, desenvolvidas e especializadas (incluindo o fluxo de energia que caracteriza os tipos de ocasiões naturais tratadas pelos físicos). Não é insignificante que Whitehead termine seu último livro com a seguinte declaração notavelmente clara da chave de sua filosofia: “[…] a operação da mentalidade deve ser concebida principalmente como um desvio do fluxo de energia […]. A noção chave da qual tal construção [de uma cosmologia] deve começar é a de que a atividade energética considerada na física é a intensidade emocional entretida na vida32.

O conceito de Whitehead de uma ocasião atual, em suma, é compatível com a ênfase empírica radical de James na experiência, e particularmente com sua noção de ” gemas” ou ” gotas” discretas de experiência, mas a estende para as profundezas da natureza (daí o “empirismo profundo”). Uma ocasião atual (ou entidade atual) é nada menos que um ato de experiência.33 Através desse ato o “ator” se torna (e “conhece”) a si mesmo através da síntese conjuntiva de muitas coisas que são diferentes dele próprio. Tal extensão torna o conceito de processo a tônica cosmológica. James intuiu isso, mas resistiu a sistematizá-lo. Sua ênfase radical na experiência, por exemplo, foi certamente central para sua compreensão do processo, já que a “função” de uma experiência só pode ser a de alimentar o devir de uma outra experiência: “Segundo minha opinião, a experiência como um todo é um processo no tempo, pelo qual inúmeros termos particulares caducam e são substituídos por outros que os seguem por transições que […] são elas próprias experiências“.34

6. A Unidade Básica de James: A Experiência Pura

Como estou sugerindo que o conceito de Whitehead de ocasiões atuais de experiência aprofunda e sistematiza o conceito anterior de James de uma experiência pura, devemos agora examinar brevemente este último conceito.35 A “Experiência pura” é crucial para o empirismo radical de James, e ele a desdobra mais claramente em dois ensaios de 1904 (A consciência existe? e Um Mundo da Experiência Pura). Com o propósito de explicitar as ressonâncias com o conceito de Whitehead, é suficiente identificar os cinco aspectos seguintes do conceito:

a) Matéria Prima

Como o conceito de ocasião atual para Whitehead, a experiência pura funciona para James como uma alternativa ao ponto de partida cartesiano de duas substâncias: “se começarmos com a suposição de que existe apenas um material ou matéria prima no mundo, um material do qual tudo é composto, e se chamarmos esse material de “experiência pura”, então o conhecimento pode ser facilmente explicado como um tipo particular de relação um com o outro, no qual porções de experiência pura podem entrar“.36 Experiência pura é assim o nome que James dá à matéria prima de tudo.

b) Atualidade instantânea

Assim como com a entidade atual de Whitehead, James torna o conceito de atualidade central para a experiência pura. A experiência pura é “simples, atualidade não-qualificada […] uma simples aquilo37“. O conceito de atualidade em jogo também tem uma conotação temporal de ser instantâneo. A experiência pura é, portanto, o “campo instantâneo do presente38. Como o campo instantâneo do presente, uma experiência pura não pode ser verdadeira ou falsa ou subjetiva ou objetiva, pois é aquilo que é, um simples aquilo. Para aproximar a experiência pura do conceito básico de Whitehead, podemos assim chamar de experiência pura um instante atual39.

c) Virtualidade

No entanto, como simples aquilo ou instante atual da experiência não-qualificada, precisamos entender que a experiência pura está lá para ser realizada no curso de uma experiência futura. Assim, um instante atual de experiência aparece não apenas como uma pura atualidade, mas como potencial para um instante futuro que pode colocá-lo em uso e qualificá-lo de várias maneiras. Uma experiência pura pode, portanto, ser verdadeira ou falsa, objetiva ou subjetiva, no que James chama de senso virtual. Assim, a simples atualidade deve ser sempre concebida em relação a uma experiência futura virtual em processo de gestação. É por isso que James qualifica a “pureza” da experiência pura como de fato “apenas um termo relativo”40. A atualidade e a virtualidade são de igual importância e devem ser compreendidas em conjunto em uma dinâmica de desdobramento. Uma parte da experiência está sempre entrando em algum tipo de relação com outra parte da experiência. Por exemplo, imaginamos uma refeição futura e depois vemos e cheiramos essa refeição e depois comemos essa refeição.

d) O Fluxo ou “Corrente Sensacional” da Dinâmica da Atualidade/Virtualidade

Essa dinâmica da atualidade/virtualidade está claramente em jogo quando James define o conceito de experiência pura em termos do “fluxo imediato da vida”41. Esse fluxo pré-existe em formas posteriores de reflexão e categorização conceitual, por exemplo, e os abastece com o material que eles põem em uso. Portanto, se a experiência pura é uma pura atualidade, então é uma atualidade grávida de possibilidades virtuais — ela é um aquilo “que ainda não é um quê definido, que está pronto para ser todo tipo de coisa”. Ou, ainda, “o fluxo dela não vem mais cedo do que ela tende a se preencher de ênfase, e essas partes salientes tornam-se identificadas, fixas e abstratas; de modo que a experiência agora flui como se fosse disparada com adjetivos e substantivos e preposições e conjunções”42. Em uma maravilhosa metáfora mista e multiplicada, James escreve sobre qualidades e objetos definidos que florescem de um fluxo de experiência pura ou de um fluxo de sensações, apenas para derreter novamente na próxima experiência.43

e) Mente e Matéria como Possibilidades Virtuais

James insiste que a experiência pura tem o potencial para receber ação em relação aos detalhes de um objeto conhecido, e tem o potencial para receber ação em relação aos detalhes de um conhecedor que conhece um objeto. Mente e matéria, tal como a virtualidade atualizada, são assim realizações que são o efeito de uma espécie de duplicação retrospectiva ou reentrada da experiência pura por uma experiência posterior. Isto é essencialmente o que James quer dizer quando ele insiste que a consciência é uma função e não uma entidade: “subjetividade e objetividade são unicamente atributos funcionais, realizados somente quando a experiência [pura] é “tomada”, ou seja, falada, duas vezes, considerada juntamente com seus dois contextos diferentes respectivamente, por uma nova experiência retrospectiva, da qual toda essa complicação passada forma agora o conteúdo fresco”.44

James escreve neste contexto da transformação de um sonho-do-dia em uma reflexão consciente em termos de abstração de um determinado conteúdo e “conectando-o a um novo grupo de associados que o fazem reentrar em minha vida mental45“: “A caneta, realizada desta forma retrospectiva como eu a percebo, figura assim como um fato da vida “consciente”. Mas só o faz na medida em que a “apropriação” ocorreu; e a apropriação é parte do conteúdo de uma experiência posterior totalmente adicional à caneta originalmente “pura”. Essa caneta, virtualmente objetiva e subjetiva, não é, em seu próprio momento, na verdade e intrinsecamente, nenhuma das duas. Ela tem que ser vista e utilizada, a fim de ser classificada de qualquer forma distinta. Mas seu uso, assim chamado, está nas mãos da outra experiência […].”46

7. Empirismo Radical e Empirismo Profundo

Até agora, sugeri que Whitehead sistematiza a experiência pura de James com seu conceito de entidade atual, e com isso estende o conceito de experiência ao coração da natureza, aprofundando assim o empirismo radical. Em vez de repetir passos já dados em outros lugares, vou agora fazer a pergunta pragmática: Que diferença prática isso faz? Minha resposta diz respeito ao que Whitehead chama de segurança da justificação intelectual.47 Whitehead proporciona maior confiança sobre a manutenção do valor de alguns dos aspectos mais tendenciosos e vulneráveis do pensamento de James. Especificamente, estes incluem:

a) sua explícita resistência às explicações transcendentais e sua insistência na unidade última imanente de um universo plural;
b) sua ênfase “construtivista” sobre a importância da criatividade auto-geradora em um universo em processo de avanço criativo48;
c) a noção de que, em conjunto, um universo imanente de criatividade auto-geradora é um universo sem fundamentos, ou melhor, um universo que se auto-fundamenta;
d) sua concepção implícita desse universo plural enquanto caracterizado por uma “evolução” interna de diferentes graus de existência que juntos compõem uma unidade híbrida ou em mosaico de muitas regiões, e;
e) a importância dada à experiência subjetiva, incluindo sentimentos, emoções e valores, que não se separam de uma natureza mais ampla, mas que são levados a sério como formas naturais de um grau mais refinado e valioso.

Juntas, agrupo essas características inter-relacionadas sob o rótulo de “empirismo profundo”. O empirismo profundo aceita que “nada deve ser admitido como fato […] exceto o que pode ser experimentado em algum momento definido por alguma experiência “49 , mas, seguindo Whitehead, se estende o conceito de uma experiência a todas as ocasiões que coletivamente constituem o universo. James de fato sugeriu tal extensão, mas o fez de forma bastante tímida e não há dúvida de que seu território experiencial familiar era o domínio da experiência característica da psicologia humana. James assim escreve que podemos continuar, como empiristas radicais, a acreditar na existência para além de nossa limitada experiência humana, mas:

o além deve, é claro, em nossa filosofia, ser sempre ele mesmo de natureza experiencial. Se não for uma experiência própria futura ou uma experiência presente de nossa vizinhança, deve ser uma coisa em si mesma no sentido do termo do Dr. Prince e do Professor Strong — ou seja, deve ser uma experiência para si mesma cuja relação com outras coisas traduzimos na ação de moléculas, ondas de éter, ou quaisquer outros símbolos físicos que possam ser. Isso abre o capítulo das relações do empirismo radical ao panpsiquismo, no qual não posso falar agora.50

Apesar de sugestões tão claras como essa, na medida em que James tendia a extrair sua filosofia das experiências no domínio da psicologia humana, seu empirismo radical tendeu ao que poderíamos chamar de empirismo úmido: um empirismo que se alimenta nas águas da famosa “corrente de consciência” de James. Eu caracterizaria a interessante aplicação que Pred51 faz de James e Whitehead dessa forma, já que sua regra básica de engajamento é “assumir a própria experiência não verbalizada na corrente no momento como referência para as próprias pretensões filosóficas”. Sem questionar o valor indiscutível desse procedimento, de uma profunda perspectiva empírica, tais correntes correm ao longo de uma superfície em grande parte inocente do calor tectônico e da pressão que se abate sobre as profundezas. A identificação intuitiva direta com todos os modos de experiência se torna um grande desafio nesse contexto, e torna-se necessário complementar a atenção especial ao próprio fluxo de experiência com a especulação (“o jogo da imaginação livre, controlada pelas exigências de coerência e lógica”)52 com base em um conjunto mais amplo de dados. Ao pensarmos em Whitehead e James conjuntamente, é importante, portanto, atender a algumas das características menos explícitas e focais do pensamento de James (sua “franja”, por assim dizer). Aqui eu não posso fazer mais do que preencher esquematicamente os cinco pontos que acabamos de listar:

Ponto a) a resistência a explicações transcendentais é uma característica óbvia tanto de James como de Whitehead. Ambos rejeitam o que eu chamarei de figura do unificador transcendental. Um exemplo óbvio seria a rejeição da grande idéia de Kant de que a síntese e integração (unificação) da sensação é realizada a priori (transcendental) por características do entendimento. No domínio político, ambos os pensadores também rejeitaram a idéia de regimes políticos de cima para baixo transcendentalmente justificados. Em ambos os casos, as formas de ordem que dão origem à unificação são interpretadas por James e Whitehead como radicalmente imanentes: a mentalidade, por exemplo, é interna à matéria e não uma alteridade imposta externamente, e o valor político não é imposto externamente aos cidadãos estúpidos, mas cultivado intrinsecamente. Em ambos os exemplos, em um gesto que lembra Espinosa, a figura do unificador transcendental é substituída por um argumento de imanência. O valor da imanência é bem evocado pela noção de James do universo como um “tecido” de experiências dentro do qual novas experiências se desdobram.

Essa recusa de explicações que se unificam por uma proposta de transcendência da experiência é, naturalmente, central para a definição de empirismo radical de James, segundo a qual “todo real deve ser vivenciável algures, e todo o tipo de coisa experimentada deve ser real algures”.53 O mesmo desafio é lançado enfaticamente por Whitehead: “O propósito explicativo da filosofia é muitas vezes mal compreendido. Seu negócio é explicar o surgimento das coisas mais abstratas a partir das coisas mais concretas. É um erro completo perguntar como um fato concreto pode ser construído a partir de universais. A resposta é: ‘De forma alguma’. A verdadeira questão filosófica é: Como podem os fatos concretos exibir entidades abstratas de si mesmos e ainda assim participar deles por sua própria natureza”.54 Isso se resume em seu princípio ontológico: “nenhuma entidade atual, então nenhuma razão”55.

Ponto b), relativo ao construtivismo, surge claramente nesse contexto quando James escreve que o conhecimento de realidades sensíveis “ganha vida dentro do tecido da experiência”. Ele é feito; e feito por relações que se desenrolam no tempo”.56 Essa profunda ênfase construtivista no fazer é decisiva para James, e ainda assim extremamente vulnerável à dispensa. É fundamental para o seu repensar da consciência, pois, para James, consciência e matéria não são duas metades de uma realidade essencial composta duplamente. Não se obtém a consciência ou a matéria por um processo de subtração, mas por um processo de adição criativa. Consciência é um devir e não algo que já é. James insiste no fato de que as experiências “tornam-se parte de nossa consciência em sua totalidade, tornam-se físicas em sua totalidade; e esse resultado é alcançado pela adição”57.

Tal forma de construtivismo deve ser contrastada com epistemologias de representação mais familiares, nas quais o conhecimento é apenas uma questão de representação de uma realidade externa por uma mente de conhecimento transcendente. Para citar Whitehead, trata-se da “cumulação do universo e não de uma encenação sobre ele”58. É uma questão, para usar outra frase Whiteheadiana, de avanço criativo. Sugiro a frase “construtivismo profundo”, como um contraste, por exemplo, com o construtivismo superficial de Kant que é restrito ao conhecedor ou experiente cujo sentido do mundo é interpretado como uma construção complexa. Ao discutir a forma como as realidades são “arrancadas” das possibilidades virtuais, ao contrário, James sugere que realmente “é o problema da criação; pois no final a questão é: Como faço para que sejam? Atividades reais são aquelas que realmente fazem as coisas serem, sem as quais as coisas não são, e com as quais elas estão lá”59.

James repete isso quando escreve que “a unidade do mundo está no conjunto em crescimento”. Essa noção de que “o universo cresce continuamente em quantidade através de novas experiências que se enxertam sobre a massa mais antiga”60 é mais ou menos claramente expressa pela metáfora de James de seu empirismo radical como uma filosofia em mosaico composta de fatos díspares e plurais. Em outras palavras, e aqui chegamos ao ponto c), não existe um fundamento último para o mosaico de experiências. James coloca isso de maneira mais prosaica quando ele compara as peças de tecido de cama que sustentam os pedaços de um mosaico comum com a forma como a maioria das filosofias estão coladas em termos transcendentais, tais como Substâncias, Egos transcendentais ou Absolutos. No mosaico do empirismo radical não existe tal roupa de cama: “é como se as peças estivessem presas por suas bordas, as transições vividas entre elas formando seu cimento”61 . É interessante que James identificou tal característica como a essência do humanismo: “embora uma parte de nossa experiência possa se apoiar em outra parte para fazer dela o que é… a experiência como um todo é autocontida e não se inclina sobre nada”62.

Voltando brevemente aos pontos d) e e), no ensaio A World of Pure Experience, James oferece dois símiles para contrastar o idealismo absoluto com o empirismo. O universo do absoluto-idealismo, ele sugere, é como um aquário ou uma bacia de peixes dourados — pode-se ver claramente os peixes através do meio transparente da água. A razão pode penetrar facilmente na cena e conectar as partes de forma lúcida. Em contraste, James convida o leitor a imaginar o universo do empirismo como “uma daquelas cabeças humanas secas com as quais os Dyaks do Bornéu decoram suas pousadas”. O crânio forma um núcleo sólido; mas inúmeras penas, folhas, cordas, miçangas e apêndices soltos de cada descrição flutuam e pendem nele, e, salvo que terminem nele, parecem não ter nada a ver um com o outro”.63 Em comparação com o globo de cristal do aquário, esta última imagem enfatiza a intimidade imperfeita de vários elementos de experiência diferentes, que se caracterizam pela descontinuidade e mistura, tendo em comum apenas o fato nu de serem montados juntos. O tipo de razão que pode fazer sentido para o núcleo do crânio é confundido pelas plumas e não encontra conexões entre os outros apêndices, exceto sua co-presença nua.

A metáfora do mosaico do empirismo radical situa-se em algum lugar entre estas imagens de empirismo (a cabeça Dyak) e idealismo (o aquário de peixe-dourado). A idéia expressa pela metáfora do mosaico é que existem regiões de consistência (aquários de peixes-dourados) dentro de uma totalidade híbrida mais ampla — e crescente — (cabeça de Dyak). Cada região de consistência pode ter seu próprio grau de unidade ou sua própria conectividade interna, mas o grau de unidade próprio de uma região não precisa se estender àquela constituída pela peça vizinha no mosaico. O universo da experiência forma uma unidade híbrida composta de numerosos graus de unidade, cada um sujeito a sua própria “lógica”. A conectividade interna ou consistência aludida por esta frase “grau de unidade” sugere que o que torna tal grau consistente é a existência de um tipo compartilhado de conectividade que a percorre, unificando as muitas experiências (ocasiões) singulares que a compõem. Ou seja, as ocasiões de experiência que compõem um “grau” são conectadas internamente e conectáveis umas às outras, formando, por assim dizer, um sistema auto-referencial de operações.

Cada grau de unidade ou região de consistência na cabeça Dyak de James pode, portanto, ser considerada uma sociedade, no sentido de Whitehead, de um grupo de ocasiões compartilhando uma forma auto-sustentável de ordem ou modo de “união”. Tomando a transição co-consciente como exemplo, é claro que uma ocasião de experiência consciente se conecta com a ocasião seguinte, e que esse processo contínuo produz a unidade aparente de nosso “fluxo de consciência”. Uma experiência consciente não pode se conectar da mesma forma direta com, digamos, um evento biológico, como a liberação de um neurotransmissor, ou um evento da sociedade, como o proferir de uma promessa. A liberação de um neurotransmissor pode se conectar diretamente à emissão de uma carga elétrica sináptica, mas não a uma expressão discursiva, que pode se conectar diretamente apenas a outro evento discursivo. Assim, haveria uma sociedade de ocasiões neurais, uma sociedade de ocasiões conscientes e uma sociedade de ocasiões discursivas. O conjunto heterogêneo de vários graus diferentes, tomados em conjunto, constituiria um nexus mais frouxo. Uma promessa poderia não estar diretamente ligada a uma experiência consciente e a uma cadeia de atividade neural, mas certamente dependeria da existência de ambos os graus de conectividade, e muito mais além. Para simplificar algumas das implicações da metáfora do mosaico de James, proponho que se considere a sugestão de Whitehead de uma divisão grosseira da natureza em seis graus de complexidade coordenada e livremente distinguíveis:

  1. Existência humana, corpo e mente.
  2. Todas as outras vidas animais.
  3. Toda a vida vegetal.
  4. Células vivas únicas.
  5. Todos os agregados inorgânicos de grande escala.
  6. Todos os acontecimentos na escala infinitesimal revelados pela física moderna.

As formas de conectividade ordenada que caracterizam as ocasiões atuais que compõem os agregados inorgânicos em larga escala (uma cadeia de montanhas, por exemplo) são repetitivas, estão em conformidade e correspondem ao que chamamos de leis físicas da natureza. Embora nenhuma fronteira rígida e rápida possa ser traçada entre graus inorgânicos e orgânicos, uma única célula viva, ao contrário de um agregado inorgânico, forma seu próprio micro-sistema limitado de conectividade. Uma célula viva, para Whitehead, é uma sociedade estruturada de ocasiões atuais que inclui dentro de seu nexus um número de sociedades subordinadas não-vivas. Agrupamentos de moléculas não vivas, por exemplo, são organizados em padrões estruturais intrincados dentro da membrana do limite da célula. O complexo meio interno criado por esses padrões promove certas peculiaridades de atividade (e portanto de experiência) que não podem ser encontradas fora desse meio. Ou seja, uma molécula física é uma molécula física localizada dentro ou fora de uma célula viva, mas as ocasiões em que ela está implicada podem diferir radicalmente à medida que ela se move para dentro e para fora do contexto vivo de uma célula.

Temos assim duas peças do mosaico de James, ou dois graus de ordem amplamente distinguíveis (5 & 4 acima). Essa distinção permite uma visão do que o físico quântico Erwin Schrödinger descreveu como a “incapacidade óbvia da física e da química atuais” de levar em conta “os eventos no tempo e no espaço que ocorrem dentro da fronteira espacial de um organismo vivo”.64 O preço pago pela complexidade interna da célula viva é, contra o dogma darwiniano, uma existência relativamente frágil, insegura e instável (em comparação, quero dizer, às formas inorgânicas). O padrão de uma célula viva é um arranjo delicadamente equilibrado e improvisado que está constantemente em processo de ruptura e, portanto, constantemente em processo de reconstrução de si mesmo. Essa reconstrução requer o que chamamos de alimento — ou seja, o roubo de material do exterior para ser usado na reconstrução do interior.

Ao passarmos de 4 para 3, 2 e 1, passamos para regiões ainda mais complexas de consistência que envolvem a coordenação de muitas células que, juntas, proporcionam uma ordem de forma especializada e auto-sustentável, capaz de ocasiões de experiência cada vez mais peculiares e rarefeitas. Em comparação com um vegetal, um corpo animal tem uma organização altamente centralizada. Isso significa que um corpo animal contém numerosos centros de experiência, coordenados em uma hierarquia de complexidade, de modo que os centros superiores recebem seus dados a partir das expressões dos centros inferiores. Whitehead distingue a existência humana de outra vida animal, não em termos absolutos, mas, pelo menos em parte, devido ao controle altamente centralizado de nossos corpos através de um cérebro de alto grau. Como ele coloca em uma frase memorável, o corpo humano é “um conjunto de ocasiões milagrosamente coordenadas de modo a derramar sua herança em várias regiões dentro do cérebro”65.

Esse mosaico híbrido é uma pluralidade, mas seu pluralismo é o produto de uma “evolução”66 de uma espécie de fluxo mais primordial. James, por exemplo, sugere que as experiências puras originalmente caóticas se diferenciam gradualmente com o tempo em graus mais ordenados. Tal visão, naturalmente, é consistente com a não-fundacionalista ontologia construtivista pluralista da imanência (ou seja, “empirismo profundo”) compartilhada por James e Whitehead. Ou seja, parafraseando Whitehead, devemos explicar o surgimento da variedade pluralista das coisas mais abstratas a partir das mais concretas.

Continua na Parte II (em processo de tradução)

Original disponível em: https://journals.openedition.org/ejpap/874#tocto3n12


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Notas

[1] Lowe (1941 a&b); Eisendrath 1971; Lukas 1989; Rescher 1996; Griffin 1998; Pred 2005; Weber 2006; Sinclair 2009; Weber & Weekes 2010; Weber 2011.

[2] Malone-France 2007; Stenner 2008; Brown & Stenner 2009.

[3] Whitehead (1938/66: 4).

[4] Griffin 2009; Weber 2011.

[5] James (1911: viii).

[6] James (1912/2003: 21).

[7] James (op cit.: 22).

[8] James (op cit.: 22).

[9] James (op cit.: 81).

[10] James (op cit.: 82).

[11] Whitehead (1926/85: 177).

[12] Deve ser enfatizado aqui que Whitehead afirma claramente n’A Ciência e o Mundo Moderno que ele não chegou a sua concepção orgânica do mundo através da psicologia e da fisiologia (o caminho que James tomou), mas através de seu estudo da matemática e da física matemática. Ele também reconheceu que outros pensadores tinham, de certas maneiras específicas, ido mais longe na produção de um novo pensamento do que James. Ele compara James com Descartes sob o argumento de que nenhum dos dois pensadores ofereceu uma solução definitiva para um problema filosófico, mas, ao contrário, ambos abriram novas épocas de pensamento em virtude de suas formulações claras. Bergson — cujo estilo fisiológico de pensamento manteve sua época “em movimento” — é comparado com Locke.

[13] Whitehead (1927-28/1985: 18).

[14] Lowe (1962: 263).

[15] Eisendrath (1971: 41-2).

[16] Pred (2005: 141).

[17] Whitehead (1926/85: 21).

[18] Whitehead (1934: 36).

[19] Whitehead (1920/2004: 19).

[20] Whitehead (1933/35: 237).

[21] Whitehead (1933/35: 237).

[22] Whitehead (1933/35: 226).

[23] Whitehead (1927-28/1985: 21).

[24] Cf. Teixeira 2009.

[25] James (1890/1950: 378-3, 399-400).

[26] James (1911: 154).

[27] Whitehead (1927-28/1985: 68).

[28] James (1912/2003: 26).

[29] Whitehead A. N., (1938/66).

[30] Em uma carta de 1936 a Charles Hartshorne, Whitehead comparou James com Platão, mas também sugeriu que James “se expressou pelo perigoso método do exagero” (citado em Sinclair 2009: 111). Ao comparar essas duas citações relacionadas à transição co-consciente, acho que podemos realmente testemunhar Whitehead corrigindo essa tendência em James.

[31] Whitehead (1933/35: 232-3).

[32] Whitehead (1933/35: 232-3).

[33] Whitehead (1927-28/1985: 68).

[34] James (1912/2003: 33).

[35] Salientei anteriormente que não estou sugerindo que James fosse a única influência de Whitehead aqui. Outra influência óbvia é a noção metafísica de sentimento de F. H. Bradley (Bradley 1985).

[36] Em “A Consciência Existe?

[37] James (1912/2003: 12).

[38] James (op. cit.: 12).

[39] Whitehead, entretanto, faz uma diferenciação técnica entre a noção de “instante”, concebido como uma simples entidade primária, e uma ocasião. Para Whitehead não há instantes simples, já que cada instante é sempre uma ocasião em que várias matérias de fato são agrupadas, ordenadas ou modeladas. James, entretanto, está usando a palavra ‘instantâneo’ de uma forma compatível com uma ocasião Whiteheadiana, daí minha decisão de arriscar confundir conceito e palavra aqui.

[40] James (op. cit.: 49).

[41] James (op. cit.: 49).

[42] James (op. cit.: 49).

[43] James (op. cit.: 50).

[44] James (op. cit.: 12).

[45] James (op. cit.: 113).

[46] James (op. cit.: 69).

[47] Whitehead (1933/35: 45).

[48] Eu optei por não abordar aqui os aspectos teológicos da filosofia de Whitehead. Tais aspectos se centram em torno de sua noção de objetos eternos. Trata-se de uma questão muito importante que não pretendo encerrar neste momento.

[49] James (1909: 372).

[50] James (1912/2003: 46).

[51] Pred (2005: 17).

[52] Whitehead (1927-28/1985: 5).

[53] James (1912/2003: 83).

[54] Whitehead (1927-28/1985: 20).

[55] Whitehead (op. cit.: 19).

[56] James (1912/2003: 30).

[57] James (op. cit.: 30).

[58] Whitehead (1927-28/1985: 237).

[59] James (1912/2003: 95).

[60] James (op. cit.: 47).

[61] James (op. cit.: 45).

[62] James (op. cit.: 102).

[63] James (op. cit.: 25).

[64] Schrödinger (1990: 3-4).

[65] Whitehead (1933/35: 243).

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Sobre o Autor ou Tradutor

Bernardo Santos

Aluno do Olavão, bacharel em matemática, amante da Filosofia, tradutor e músico nas horas vagas, Bernardo Santos é administrador principal do Diário Intelectual.

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