Os fragmentos de Parmênides (1-19) são numerados aqui de acordo com o ordenamento utilizado para os fragmentos “B” em H. Diels, Die Fragment der Vorsokratiker, ed. W. Kranz, 6ª ed. (Hildesheim: Weidmann, 1951). Assim, Fragmento 1 = DK B1, etc.
Fragmento 1
1. As éguas que me levam até onde o meu (seu?) espírito possa alcançar
2. Estavam conduzindo [-me]; quando me guiavam (me carregavam), elas me puseram em uma estrada com muitas vozes
3. De uma deusa (daimōn), que através de todas as cidades1 leva o homem de entendimento.
4. Por isso fui carregado, pois assim as muito-indicativas éguas que me carregavam
5. Puxavam a carruagem em toda a extensão, e as donzelas lideravam o caminho.
6. O eixo nas caixas das rodas estava emitindo o som de um surinx (flauta), ele próprio
7. Queimando, pois estava sendo pressionado por suas duas rodas
8-9. Giratórias em ambas as extremidades, enquanto as Damas do Sol (Hēliades) se apressavam em me transportar, deixando para trás as casas da Noite,
10. Para dentro [da] luz, tendo retirado os véus de suas cabeças com as mãos.
11. Há os portões dos caminhos da Noite e do Dia,
12. Um lintel e uma soleira de pedra os mantêm juntos em ambos os lados (superior e inferior),
13. Eles mesmos sendo preenchidos por vastas portas;
14. Destes muitos penalizados, Dikē (Justiça) detém as chaves do intercâmbio.
15. Ela, de fato, as donzelas bajulando com palavras suaves
16-17 Persuadiram inteligentemente a empurrar a barra aparafusada rapidamente dos portões para elas; e eles, das portas,
17-19 Estendendo, fizeram uma lacuna enorme, girando os postes de bronze em suas bases por sua vez
20 Fixados a eles com pinos e pregos. Imediatamente através dos portões
21 Ao longo da rodovia, as donzelas guiaram a carruagem e as éguas.
22-23 E a deusa (thea) me recebeu de boa vontade, pegou minha mão direita na dela, falou comigo e dirigiu-se a mim assim:
24 “Jovem na companhia de carruagens imortais
25 E de éguas que o transportam, chegando à nossa casa,
26 Bem-vindo, pois de forma alguma um destino ruim (moira) o enviou para ir
27 Neste caminho — pois está realmente longe do caminho trilhado pelos humanos —,
28 Mas antes Themis (Direito) e Dikē (Justiça). Você deve ouvir para (aprender) tudo,
29 Tanto o coração inquebrantável da bem fundamentada (persuasiva?)2 Alētheiē (Verdade)
30 E as opiniões dos mortais, nas quais não existe uma verdadeira garantia.
31 Mas, no entanto, você também aprenderá estas coisas, a forma como as coisas que são acreditadas (OU: as coisas que parecem)
32 Devem estar realmente [indo] através de todas as coisas (OU: Devem realmente ser aceitas como continuamente (continuadamente) permeando tudo).
Fragmento 2
1. Venha, eu lhe direi — e você deve aceitar minha palavra quando a tiver ouvido —
2. Sobre as vias de investigação que por si só devem ser concebidas (OU: pensadas; noēsai):
3. A primeira, do que é, e que é impossível que não seja3, (OU: como não é possível que não seja)
4. É a via da Peithō (Credibilidade), pois segue a Verdade4;
5. A outra, a do que não é, e que é obrigado a não ser:
6. Esta é uma via que não pode ser explorada;
7. Pois você não poderia reconhecer o que não é — pois isso não é possível —,
8. Nem poderia expressá-lo.
Fragmento 35
…pois a mesma coisa é para se conceber (conscientização; noein6) e para ser
(OU: ….pois a mesma coisa é conceber (estar ciente [de]) e ser)
Fragmento 4
1 Não obstante, olhe constantemente com noos7 para o que está ausente e para o que está presente; (OU: ….observe constantemente o que está ausente e o que está presente [ao noos];)
2 Pois você não poderá separar o que é (ser) do que é (ser),
3 Nem que se disperse em todos os sentidos, de acordo com uma ordem
(OU:….em todos os sentidos através do universo)
4 E também nem a sua junção.
Fragmento 5
1 … Para mim é a mesma coisa (comum)
2 De qual lugar eu devo começar, pois para aquele lugar eu voltarei novamente.
Fragmento 6
1 É apropriado (OU: necessário) dizer e noein que eon8 (ser; aquilo que é) é; porque é (pois isto pode ser; pois isto é) para ser (OU: estar), (OU: é necessário/adequado dizer e noein que eon é; pois…) (OU:…; para ser, é,)
2 De forma alguma ele não é. Estas coisas eu lhe peço que indique a si próprio; (OU: Nada não é….)
3 Pois a partir desta primeira via de investigação eu observo a você,
4. Mas também da estrada na qual os mortais nada entendem
5-6. E vagam com duas cabeças, pois o desamparo em seus próprios seios conduz seus noos errantes em linha reta, e eles são carregados igualmente
7. Surdos e cegos, atordoados, uma tribo sem julgamento,
8. Pela qual é considerado que pelein (ser; seguir em frente) e ouk einai (não ser) são o mesmo e não o mesmo,
9. Mas o caminho de todos é retrocedente.
Fragmento 7
1 Pois isto nunca é forçado, que as coisas que não são (mē eonta) sejam,
2 Mas afaste (retenha) seu pensamento deste caminho de investigação:
3 Tampouco permita que o hábito da muita experimentação (muita experiência) o obrigue a percorrer este caminho,
4. A exercer um olhar sem objetivo (sem atenção) e uma audição (ouvido) e língua ruidosos,
5. Mas escolha (julgar; distinguir; krinai) para si mesmo por meio da razão (um relato: logos) uma refutação contundente
6. A partir do que eu disse.
Fragmento 8
1 …Um relato (história; muthos) de uma via ainda
2 Resta: como ele é. Sob estes sinais
3. Há muitos, de como é [um] ser (eon) não nascido e indestrutível, (OU:…, como é (ser; eon) não-nascido e indestrutível,)
4. Inteiro, único, imóvel e completo (ou: sem emenda, desacompanhado);
5 Nem nunca foi nem será, já que agora está todo junto (comum),
(OU:Não houve ou haverá, já que…)
6 Um, contínuo; por qual parentesco (de nascimento) você procurará?
7-8 Como e de onde cresceu? Tampouco permitirei que você diga nem que conceba (noein) que foi d’Aquilo-que-não-é (do que não é: ek mē eontos); pois não é nem dizível (phaton) nem perceptível a noos (concebível: noēton)
9. Que Aquilo-que-é seja idêntico a Aquilo-que-não-é. E que necessidade teria começado isto, partindo
10. Cedo ou tarde, iniciando do nada, a crescer?
11 Assim, ou é necessário ser inteiramente (integralmente), ou não [ser].
12 Nem a força da segurança jamais permitirá, que do que não é (vindo do não ser; ek mē eontos)
13 Algo venha a ser ao lado dele; por isso, nem o vir a ser
14 E nem o perecer é permitido por Dikē (Justiça) através do afrouxamento dos grilhões,
15 Mas ela os mantém; e nisto está a distinção em relação a estes:
16 É ou não é; pois de fato foi decidido, tal como é necessário,
17 Por se permitir que este último caminho seja inconcebível (anoēton) e inominável (sem nome) — por ele não ser uma verdadeira (genuíno; real)
18 Estrada, e se permitir que o primeiro seja, e seja genuíno (verdadeiro).
(OU:…conceder que o primeiro seja assim: ser genuínp (verdadeiro)).
19 Como poderia perecer Aquilo-que-é (o ser: to eon)? Como ele poderia vir a ser (nascer)?
20 Pois se veio a ser, ele não é (foi), nem se alguma vez esteve prestes a ser.
21 Dessa maneira, a vinda ao ser foi extinta e não se ouve falar em destruição.
22 Tampouco ele é divisível, uma vez que é todo parecido (semelhante);
(OU:…., já que tudo é parecido (semelhante);)
23 Nem está, de maneira alguma, em qualquer lugar, o que o impediria de se manter unido;
24 Nem é ele de modo algum menos; mas tudo está cheio do que é (ser: eontos).
25 Portanto, tudo é contínuo; pois Aquilo-que-é (ser: eonti) se aproxima d’Aquilo-que-é (ser: eonti). (OU: Portanto, tudo é contínuo; pois…)
26 Mas imóvel nos limites dos poderosos laços
27. Que ele é sem começo e sem cessar, uma vez que a vinda ao ser e a destruição
28. Vaguearam para muito longe, e (mas) a verdadeira segurança os empurrou para longe.
29 Permanecendo o mesmo e no mesmo lugar (caminho), ele permanece por (de acordo com) si
30 E assim ele se mantém firme no local, pois o poderoso Anankē (Necessidade)
31 Mantém em laços de limite, o que o fecha em todos os lados (em ambos os lados).
32 Por isso (por causa do qual) não é certo (lícito, cumpre: themis) que o que é (ser; eon) esteja incompleto: (OU: Portanto (uma vez que) é certo (etc.; themis) que o que é (to eon) não seja incompleto:)
33 Pois ele não está desprovido; se estivesse, lhe faltaria tudo.
34 A mesma coisa é para se conceber (pensamento, consciência, etc.: noein) e é por isso que existe aquilo que é concebido (pensamento, etc.: noēma) (OU:…e é por isso que existe a concepção (pensamento, consciência, etc.; noēma) (OU:…e é por isso (por causa do qual) que ele (i.e., eon) é noēma)
35. Porque, sem aquilo que é (ser:, to eontos), do qual aquilo que é expresso depende,
36. Você não encontrará concepção (conscientização, etc.: noein)9. Pois nada é ou será
37. Além daquilo que é (ser: tou eontos), uma vez que Moira (Destino) o obrigou
38. A ser inteiro e imóvel; com respeito a isso, tudo foi nomeado (especificado; lendo como onomastai10) (OU: ….com respeito a isso, foram nomeadas (lendo como onomastai) todas as coisas) (OU: ….com respeito a isso, tudo será um nome (lendo onoma estai))
39. Assim como os mortais que confiam ser verdadeiros
40. O vir a ser e o ser destruído, o ser e o não ser,
41. E o mudar de lugar e a troca de cores brilhantes da superfície.
42 Porém, uma vez que um limite é mais externo, ele (isto é, Aquilo-que-é) é completo (perfeito),
43 De todos os lados, como a maior parte de uma esfera bem redonda,
44-45 Em todos os sentidos igualmente equilibrada no meio, pois é necessário que ele não seja algo maior nem algo menor de um modo ou de outro;
46 Nem o que é (ser: eon) não existe, o que o impediria de chegar
47-48. À mesma coisa; nem o que é (ser; eon) é tal que poderia ser mais do que o que é (ser; eon) de algum modo (lugar) e menos em outro, uma vez que ele é todo (uma vez que tudo é) inviolável.
49 Pois de todos os lados (de todas as maneiras) é igual a si próprio, ele se mostra uniformemente dentro de limites.
50. Neste ponto, eu interrompo meu digno discurso confiável que faço para você
51. Acerca (de ambos os lados) da verdade Deste ponto em diante, pode-se aprender as opiniões dos mortais
52. Ouvindo minhas palavras, uma ordem enganosa;
53 Pois dois julgamentos (opiniões, distinções) eles estabeleceram para nomear (especificar) as aparências (formas),
54 Um dos quais não é necessário [nomear? estabelecer?] – em relação a isso eles têm vagueado (são enganados) –
55 Eles distinguiram (escolheram; ekrinanto) por si mesmos, em relação à forma, e colocaram sinais para si
56 Separados uns dos outros; aqui por um lado [eles colocaram o sinal do] fogo ardente etéreo (alto),
57 Sendo suave (Uma coisa suave), extremamente leve em peso, o mesmo que a si mesmo em todos os sentidos,
58 E não o mesmo que o outro [um]. Mas este (o último) em conformidade com si mesmo
59 Ao contrário [é? eles colocaram o sinal?] noite obscura (inapreensível), uma forma sólida e pesada.
60 Eu lhe falo sobre todo esse arranjo de adaptação
61 Para que em nenhum momento qualquer opinião dos mortais o conquiste (suplante).
Fragmento 9
1 Mas como de fato todas as coisas têm sido nomeadas luz e noite
2 E cada uma delas, de acordo com seus próprios poderes, foi dada como nome a estas coisas e àquelas,
3 Tudo está cheio de luz e noite invisível juntos
4 Ambos igualmente, uma vez que nada tem participação em nenhum deles (OU: uma vez que nenhum deles tem participação em nada).
Fragmento 10
1-3 Você conhecerá a natureza celestial e todas as constelações no céu e os atos destrutivos (não vistos?) da tocha do sol claro e brilhante e de onde ela veio à existência,
4 E você aprenderá os atos de vagar (rotatórios) da lua de olhos redondos
5 E sua natureza, e também você saberá de onde veio o céu que se segura (abraçando) de ambos os lados (em todos os lados),
6. E como Anankē (Necessidade) o levou a se prender
7. Em laços com as estrelas.
Fragmento 11
1 …como a terra e o sol e a lua
2. E o éter comum e a Via Láctea e o mais distante (eschatos, linha 3) Olimpo
3. E a força quente das estrelas foram postos em movimento
4. Para vir a ser.
Fragmento 12
1 Pois os mais estreitos [anéis] são preenchidos com fogo sem mistura,
2. Os próximos a estes são da noite, e uma porção de chama é descarregada; no meio destes está a divindade (daimōn) que dirige tudo;
4 Pois ela governa sobre o parto doloroso e a mistura (misturando) de tudo,
5 Enviando fêmea para macho para se unirem (na relação sexual) e depois, por sua vez, de forma contrária
6 Macho para fêmea.
Fragmento 13
1 Primeiro de todos os deuses que ela idealizou, Erōs (Amor)11.
Fragmento 1412
1 Uma luz nocturna brilhante que vagueia pela terra
Fragmento 15
1 Sempre à procura dos raios de sol
Fragmento 15a13
1 …enraizado na água
Fragmento 16
1 Pois, como em cada ocasião, uma mistura (mista) contém muitos membros errantes,
2-3 Portanto, noos está presente para os humanos; pois a natureza (forma) dos membros é a mesma coisa que pensa (apreende: phroneei) nos humanos
(OU: ….é a mesma coisa que se pensa (de, para, para) humanos)
4 Tanto para todos juntos como individualmente; para o pleno é concebido (noēma).
(OR:….é o que é concebido].)
Fragmento 1714
1 Meninos para a direita, meninas para a esquerda
Fragmento 1815
Quando mulher e homem [juntos] misturam as sementes de Vênus (Amor), o poder que constitui [corpos] (OU:o poder que se forma), a partir do sangue diferente, se mantém a proporção adequada, produz corpos bem formados (bem constituídos). Pois se os poderes, quando as sementes estão [sendo] misturadas, lutam e não constituem (fazem) uma unidade no corpo em que a mistura ocorreu, então eles atormentarão terrivelmente (cruelmente) o sexo nascente (crescente) com a dupla semente.
Fragmento 19
1 Assim, para você essas coisas surgiram de acordo com a opinião e agora são
2 E a partir deste ponto, serão completadas depois de terem crescido;
3 Os seres humanos tendo estabelecido um nome distinto para cada uma delas.
“Fragmento da Cornford”16
1 Tal, imóvel é (vem a ser: telethei) aquilo para o qual, como um todo, o nome é “ser”.
Atenção: esta tradução é uma versão inicial, que poderá ser alterada posteriormente.
Original disponível em: https://mason.gmu.edu/~rcherubi/poem4.html
Notas:
[1] Fragmento 1, linha 3: Os manuscritos aqui são todos corruptos (ou seja, devem ser o resultado de uma má cópia, pois apresentam uma série de letras que não formam uma sequência de palavras corretamente soletradas). A maneira mais comum de dar sentido a eles fornece a sequência de palavras que eu traduzi acima. Recentemente N.-L. Cordero argumentou que as letras poderiam render uma sequência diferente de palavras, de modo que essa linha leria algo parecido com minha tradução: De uma deusa, que carrega ali, em relação a tudo, o homem do entendimento. Ver N.-L. Cordero, By Being, It Is (Parmenides Publishing, 2005) e Les Deux chemins de Parménide, 2d ed. (Vrin/Ousia, 1997).
[2] Fragmento 1, linha 29: Os manuscritos diferem aqui. Alguns oferecem eupeitheos, bem persuasivos; outros têm eucukleos, bem arredondados.
[3] Fragmento 2, linha 3: O grego aqui é muito difícil. A frase grega é hōs estin. Hōs significa ‘como’ ou possivelmente ‘aquilo’, e estin é a terceira forma de pessoa singular do verbo ‘ser’. Tal como algumas línguas modernas como o espanhol, o grego muitas vezes omite o substantivo ou pronome que precede um verbo se o sujeito do verbo for claro a partir do contexto. Assim, hōs estin significaria como/que [algo] é. Mas como não temos o texto completo do poema de Parmênides, não temos uma indicação absolutamente clara do que é o sujeito do verbo (o “alguma coisa”). Dadas as observações da deusa sobre eon (“ser” ou “o que é”) nos Fragmentos 6 a 8, muitos estudiosos sugerem que o sujeito do verbo estin na linha 3 do Fragmento 2 é eon. Isto corresponderia bem com a descrição do que deve ser dito e concebido a respeito de eon na via da investigação que é discutida nas primeiras 49 linhas do Fragmento 8. Outros comentaristas sugeriram que de fato não há sujeito para o verbo, e que a linha deve ser lida como indicando que um caminho de investigação é conceber que “é”, ou seja, levar a sério o significado e as implicações de dizer que qualquer coisa “é”.
[4] Fragmento 2, linha 4: Muitos tradutores apresentam essa linha para que Peithō (Persuasão) siga Alētheiē, mas a ortografia nos manuscritos sugere que é o contrário. Isso pode ou não ser o resultado de corrupção nos manuscritos. Quanto ao que alētheiē (também soletrado alētheia) significa, está relacionado, mas não é idêntico, à verdade. Apresentar alētheiē é fazer mais do que dizer algo verdadeiro, ou dizer a verdade. Enquanto o oposto da verdade é falsidade ou falsidade, alētheiē se opõe não apenas aos pseudos (mentira, falsidade), mas também ao lēthē (esquecimento, esquecimento) e seus próximos. Podemos começar a caracterizar o alētheiē dizendo que é algo como a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade. Então precisaríamos acrescentar as especificações adicionais de que dizer alētheiē não pode incluir mentiras, erros, equívocos, falhas ou outras imprecisões; e não pode (com ou sem querer) distorcer, ocultar, omitir ou ignorar qualquer coisa pertinente ao tópico em questão. Ser capaz de dizer alētheiē requer uma consciência de tudo o que é relevante, e consciência do contexto de cada assunto. Isso sugere outro contraste com a verdade: podemos dizer que alguém “adivinhou a verdade”, ou que ele ou ela “declarou a verdade” ao fazer uma suposição precisa. Não existe um uso grego comparável de alētheiē. Em Pindar e no relato de Hesíodo sobre as Musas, a consciência das origens das coisas (do cosmos, de uma cidade, de uma família) é um requisito para apresentar adequadamente os acontecimentos atuais no poema de alguém. A consciência dessas origens é necessária para poder dar a cada coisa e pessoa o que lhe é devido e apresentar cada uma delas em seu devido lugar (de acordo com dikē) no mundo. Há então algo explicativo no alētheiē que estes poetas afirmam estar apresentando, e tal aspecto figurará de forma proeminente nos fragmentos de Parmênides. (Partes desta nota foram publicadas em minha contribuição, “Alētheia e Inquiry in Parmenides”, pp. 1-20 em Proceedings for the Fourth Annual Independent Meeting of the Ancient Philosophy Society, 2004).
[5] Fragmento 3, nota geral: O fragmento 3 tem apenas metade de uma linha, e pode não representar uma frase completa ou mesmo uma cláusula completa.
[6] Fragmento 3, linha 1: Noéin é o infinitivo de um verbo que na maioria das vezes significa “estar consciente [de]”, “estar ciente [de]”, ” compreender [a]” (no sentido de ter uma concepção mental de algo – não concepção no sentido da procriação), “conceber”, e assim por diante. Também pode significar “pretender”, “planejar”, e coisas do gênero.
[7] Noos pode ser traduzido como ‘mente’, ‘inteligência’, ‘consciência’, ‘consciência intelectual’. É etimologicamente relacionado a noein. Anaxágoras usará a mesma palavra; soletra-se nous em seu dialeto.
[8] Eon pode ser traduzido como ‘ser’, ‘um ser’, ‘aquilo que é’, ‘o que é’, ou talvez ‘o que é o caso’. Eon acrescenta o artigo definido, para que possa ser traduzido como ‘o ser’, ‘a coisa que é’, ‘o que é’, ‘o que é’, ‘o que é’. O plural é eonta (seres, coisas que são, etc.). Mē eonta significa “coisas que não são”. To mē eon significa “o que não é”, “o que não é”, ou “não-ser”.
[9] Fragmento 8, linhas 35-36: Em The Route of Parmenides (Yale University Press, 1970), A.P.D. Mourelatos propõe que essa linha seja traduzida: “Pois não sem o que é, com o que está comprometido, você encontrará o pensamento” (pp.170-172). A palavra grega conota de fato o compromisso, portanto, esta é uma alternativa de tradução muito importante. Eu traduziria noein como ‘conceber’ ou ‘consciência’ em vez de ‘pensar’, por razões detalhadas em meu artigo, “Legein, Noein, e To Eon in Parmenides” (Filosofia Antiga 21 [2001]: 277-303).
[10] Fragmento 8, linha 38: Alguns manuscritos têm onomastai, ‘foi nomeado’, enquanto outros têm onoma estai, ‘será um nome’.
[11] Fragmento 13, linha 1: Não está claro quem deveria ter idealizado Erōs (deus do amor e do desejo). É bem possível que se queira dizer a divindade feminina não nomeada do Fragmento 12; essa parece ter sido a impressão de alguns comentaristas antigos. Não sabemos se essa divindade é a mesma de qualquer outra divindade feminina nos fragmentos de Parmênides.
[12] Fragmentos 14 e 15: Supõe-se que estes fragmentos descrevam a Lua.
[13] Fragmento 15a: supõe-se que este fragmento descreva a Terra.
[14] Fragmento 17: Supõe-se que este fragmento descreva a colocação de embriões no útero.
[15] Fragmento 18: Este fragmento chegou até nós apenas na tradução em prosa latina, então eu o apresentei em prosa em vez de em verso. Aparentemente, ele deve explicar porque alguns indivíduos são atraídos apenas por seu próprio sexo (em vez de serem atraídos pelo sexo oposto – ou por ambos os sexos?).
[16] “Fragmento da Cornford”: Este fragmento foi identificado por F.M. Cornford e é amplamente, mas não universalmente, aceito como um fragmento genuíno do poema de Parmenides. Ele apresenta uma série de dificuldades. Não sabemos de onde no poema o fragmento se originou, se é genuíno: Faz parte do relato da deusa dos caminhos da investigação? Faz parte do relato dela sobre as opiniões dos mortais? É algo mais? Além disso, não está claro se este fragmento representa uma frase completa ou apenas parte de uma frase. Outro problema é a redação. A primeira palavra pode ser ou hoion, “tal”, ou oion, “sozinho”.
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