Demócrito, conhecido na antiguidade como o “filósofo risonho” por causa de sua ênfase no valor da “alegria”, foi um dos dois fundadores da antiga teoria atomista. Ele elaborou um sistema originado por seu professor Leucippus em um relato materialista do mundo natural. Os atomistas afirmavam que existem os menores corpos indivisíveis a partir dos quais tudo o mais é composto, e que eles se movem em um vazio infinito. Dos antigos relatos materialistas do mundo natural que não se baseavam em algum tipo de teleologia ou propósito para explicar a ordem e regularidade aparente encontrada no mundo, o atomismo era o mais influente. Até mesmo seu principal crítico, Aristóteles, elogiou Demócrito por argumentar a partir de considerações sólidas apropriadas à filosofia natural.
- 1. Vida e Obras
- 2. A Doutrina Atomista
- 3. Teoria da Percepção
- 4. A Alma e a Natureza das Coisas Vivas
- 5. Teoria do Conhecimento
- 6. Indivisibilidade e Matemática
- 7. Ética
- 8. Antropologia
- Bibliography
- Academic Tools
- Other Internet Resources
- Related Entries
- Acknowledgments
1. Vida e Obras
De acordo com relatos antigos, Demócrito nasceu por volta de 460 a.C. (portanto, ele era um contemporâneo mais jovem de Sócrates) e era cidadão de Abdera, embora alguns relatos mencionem Miletus. Assim como seu associado ou professor Leucippus, Demócrito teria conhecido Anaxágoras, e teria sido quarenta anos mais novo que este último (DK 68A1). Algumas anedotas dizem respeito a sua vida, mas sua autenticidade é incerta.
O trabalho de Demócrito sobreviveu apenas em relatos de segunda mão, às vezes não confiáveis ou conflitantes: o raciocínio por trás das posições tomadas muitas vezes precisa ser reconstruído. Muitas das melhores evidências são as relatadas por Aristóteles, que o considerava como um rival importante na filosofia natural. Aristóteles escreveu uma monografia sobre Demócrito, da qual apenas algumas poucas passagens citadas em outras fontes sobreviveram. Demócrito parece ter assumido e sistematizado as opiniões de Leucippus, do qual pouco se sabe. Embora seja possível distinguir algumas contribuições como as de Leucippus, a esmagadora maioria dos relatos se refere ou a ambas as figuras, ou somente a Demócrito; o sistema atomista desenvolvido é freqüentemente considerado como essencialmente “demócrito”.
Diógenes Laertius lista um grande número de trabalhos de Demócrito em muitos campos, incluindo ética, física, matemática, música e cosmologia. Duas obras, o Grande Sistema do Mundo e o Pequeno Sistema do Mundo (ver o verbete sobre doxografia da filosofia antiga), são às vezes atribuídas a Demócrito, embora Theophrastus informe que a primeira é de Leucippus (DK 68A33). Há mais incertezas quanto à autenticidade dos relatos relativos aos ditados éticos de Demócrito. Duas coleções de ditos estão registradas na antologia de Stobaeus do século V, uma atribuída a Demócrito e outra atribuída a um filósofo desconhecido, “Democrates”. DK aceita ambos como relativos a Demócrito, mas a autenticidade dos ditos em ambas as coleções é uma questão de discussão acadêmica, assim como a relação entre o atomismo de Demócrito e sua ética.
2. A Doutrina Atomista
Fontes antigas descrevem o atomismo como uma das várias tentativas dos primeiros filósofos naturais gregos de responder ao desafio oferecido por Parmênides. Apesar dos desafios ocasionais (Osborne 2004), é assim que sua motivação é geralmente interpretada pelos estudiosos de hoje. Embora a interpretação exata de Parmênides seja contestada, ele foi levado a argumentar que a mudança é meramente ilusória por causa de alguns absurdos inerentes à idéia de “o que não é”. Em resposta, Leucippus e Demócrito, juntamente com outros pluralistas pre-socráticos como Empedocles e Anaxágoras, desenvolveram sistemas que esclarecem o fato de como a mudança não requer que algo venha do nada. Tais respostas a Parmênides supõem que existem múltiplos princípios materiais imutáveis, que persistem e se reorganizam meramente para formar o mundo das aparências que muda. Na versão atomista, esses princípios materiais imutáveis são partículas indivisíveis, os átomos. A idéia de que existe um limite inferior para a divisibilidade é às vezes tomada como uma resposta aos paradoxos de Zenão sobre a impossibilidade de atravessar magnitudes infinitamente divisíveis (Hasper 2006). Reconstruções oferecidas por Wardy (1988) e Sedley (2008) argumentam, ao invés disso, que o atomismo foi desenvolvido como uma resposta aos argumentos parmenidianos.
Os atomistas sustentam que existem dois tipos fundamentalmente diferentes de realidades que compõem o mundo natural, os átomos e o vazio. Os átomos, do adjetivo grego atomos ou atomon, “indivisíveis”, são infinitos em número e variados em tamanho e formato, e perfeitamente sólidos, sem lacunas internas. Eles se movimentam em um vazio infinito, repelindo-se uns aos outros quando colidem ou se combinam em grupos por meio de pequenos ganchos e farpas em suas superfícies, que se enredam. Exceto pelo fato de mudarem de lugar, eles são imutáveis, não são gerados e são indestrutíveis. Todas as mudanças nos objetos visíveis do mundo da aparência são provocadas pela realocação desses átomos: em termos aristotélicos, os atomistas reduzem todas as mudanças à mudança de lugar. Os objetos macroscópicos do mundo que experimentamos são na verdade agrupamentos desses átomos; mudanças nos objetos que vemos — mudanças qualitativas ou crescimento, digamos — são causadas por rearranjos ou adições aos átomos que os compõem. Enquanto os átomos são eternos, os objetos compostos a partir deles não o são. Aglomerados de átomos que se movem no vazio infinito vêm a formar kosmoi ou mundos como resultado de um movimento circular que reúne átomos em um turbilhão, criando aglomerados dentro dele (DK 68B167); esses kosmoi são impermanentes. Nosso mundo e as espécies dentro dele surgiram da colisão de átomos que se movem em tal turbilhão, e também se desintegrarão com o tempo.
Ao supor que o vazio existe, os atomistas abraçaram deliberadamente uma aparente contradição, alegando que “o que não é” existe. Aparentemente abordando um argumento de Melissus, um seguidor de Parmênides, os atomistas associaram o termo “nada” àquilo que negam, a “coisa”, e afirmaram que — numa frase típica dos atomistas — um “não existe mais” que o outro (DK 67A6). Schofield (2002) argumenta que essa frase em particular teve origem em Demócrito e não em seu professor Leucippus. Ao colocar o pleno (ou sólido) e o vazio ontologicamente em um par, os atomistas estavam aparentemente negando a impossibilidade do vazio. O vazio eles consideravam ser uma condição necessária para o movimento local: se não houvesse lugares desocupados, para onde os corpos poderiam se mover? Melissus havia argumentado desde a impossibilidade do vazio até a impossibilidade de movimento; os atomistas aparentemente raciocinavam ao contrário, argumentando desde o fato de que existe movimento até a necessidade de espaço vazio para ele existir (DK 67A7). Tem sido sugerido que a concepção de Demócrito de vazio é a das regiões (temporariamente) não preenchidas entre átomos e não um conceito de espaço absoluto (Sedley 1982). O vazio não impede o movimento dos átomos porque sua qualidade essencial é a de “ceder”, em contraste com a resistência mútua dos átomos. Relatos atomistas posteriores atestam que essa “cedência” explica a tendência dos corpos à deriva para espaços mais vazios, impulsionados pela colisão de regiões mais densamente povoadas (Lucretius DRN 6.906-1089).
Alguma controvérsia envolve as propriedades dos átomos. Elas variam em tamanho: um relato — que alguns estudiosos questionam — sugere que os átomos poderiam, em princípio, ser tão grandes quanto um cosmos, embora pelo menos nesse cosmos todos pareçam ser muito pequenos para serem percebidos (DK 68A47). Eles podem assumir uma infinita variedade de formatos: há relatos de um argumento segundo o qual “não há mais” razão para que os átomos tenham um formato em vez de outro. Muitos tipos de átomos podem se entrelaçar devido a suas formas irregulares e aos ganchos em sua superfície, o que explica a coesividade de alguns compostos. Não está claro se os primeiros atomistas consideravam os átomos como conceitualmente indivisíveis ou apenas fisicamente indivisíveis (Furley 1967). A idéia de que existe uma menor magnitude possível parece sugerir que esse é o limite inferior do tamanho dos átomos, embora noções como estar em contato ou ter forma pareçam implicar que mesmo os menores átomos têm partes em algum sentido, ainda que apenas matematicamente ou conceitualmente.
Há relatos contraditórios sobre se os átomos se movem em uma determinada direção como resultado de seu peso: vários estudiosos tentaram reconciliá-los, supondo que o peso não é intrínseco aos átomos, mas é resultado das tendências centrípetas estabelecidas no turbilhão cósmico (cf. O’Brien 1981; Furley 1989, pp. 91-102). Os átomos podem ter uma tendência inerente a uma espécie de movimento vibratório, embora a evidência para isso seja incerta (McDiarmid 1958). Entretanto, seu movimento primário parece resultar da colisão com outros átomos, onde sua resistência mútua ou antitupia os faz afastar-se uns dos outros quando são atingidos. Demócrito é criticado por Aristóteles por supor que a seqüência de colisão de átomos não tem início e, portanto, por não oferecer uma explicação da existência do movimento atômico per se, embora a colisão prévia com outro átomo possa explicar a direção de cada movimento atômico individual (ver O’Keefe 1996). Embora os antigos atomistas sejam frequentemente comparados às modernas teorias ‘mecanicistas’, Balme advertiu sobre o perigo de assumir que os atomistas compartilham idéias modernas sobre a natureza do movimento atômico, particularmente a idéia de que o movimento é inercial (Balme 1941).
De acordo com diferentes relatos, Demócrito atribuiu as causas das coisas à necessidade, e também ao acaso. Provavelmente este último termo deve ser entendido como “ausência de propósito” e não como uma negação da necessidade (Barnes 1982, pp. 423-6). Demócrito aparentemente reconheceu a necessidade de dar conta do fato de que o movimento desordenado de átomos individuais distintos poderia produzir um cosmo ordenado no qual os átomos não estão apenas dispersos aleatoriamente, mas se agrupam para formar massas de tipos distintos. É relatado que ele confiou numa tendência de “gostar do semelhante” que existe na natureza: assim como os animais de um tipo se aglomeram juntos, os átomos de tipos semelhantes se aglomeram por tamanho e formato. Ele compara isso com a presença de grãos em uma peneira, ou a classificação de seixos amontoados pela maré: é como se houvesse um tipo de atração do semelhante (DK 68B164). Embora essa afirmação tenha sido interpretada de maneira diferente (por exemplo, Taylor 1999b p. 188), parece ser uma tentativa de mostrar como um arranjo aparentemente ordenado pode surgir automaticamente, como um subproduto das colisões aleatórias de corpos em movimento (Furley 1989, p. 79). Nenhuma força ou finalidade atrativa precisa ser introduzida para explicar a ordenação pela maré ou na peneira: é provável que seja uma tentativa de mostrar como os efeitos aparentemente ordenados podem ser produzidos sem forças ou finalidade direcionadas por metas.
Demócrito considera as propriedades dos átomos em combinação como suficientes para explicar a multiplicidade de diferenças entre os objetos no mundo que nos aparece. Aristóteles cita uma analogia com as letras do alfabeto, que pode produzir uma infinidade de palavras diferentes a partir de alguns elementos em combinações; todas as diferenças derivam da configuração (schêma) das letras, uma vez que A difere de N; por sua disposição (táxis), uma vez que AN difere de NA; e por sua orientação posicional (thesis), uma vez que N difere de Z (DK 67A6). Esses termos são a interpretação de Aristóteles da terminologia própria de Demócrito, que tem um sentido mais dinâmico (Mourelatos 2004). Essa passagem omite as diferenças de tamanho, talvez porque se concentra na analogia com as letras do alfabeto: é bastante claro a partir de outros textos que Demócrito pensa que os átomos também diferem em tamanho.
Ele renega, reconhecidamente, que qualidades perceptíveis além do formato e tamanho (e, talvez, do peso) realmente existem nos próprios átomos: uma das citações diretas que sobrevive de Demócrito afirma que “por convenção doce e por convenção amargo, por convenção quente, por convenção frio, por convenção cor; mas na realidade átomos e vazio” (DK 68B9, trans. Taylor 1999a). Há diferentes relatos sobre essa distinção. Furley argumenta que a “convenção” de tradução não deve ser considerada como sugerindo que existe algo arbitrário sobre a percepção de certas cores, digamos: a mesma configuração de átomos pode ser regularmente associada a uma determinada cor (Furley 1993; cf. Barnes 1982, pp. 370-7). O que Demócrito rejeita com o rótulo “meramente convencional” é, talvez, a imputação das qualidades em questão aos átomos, ou talvez até mesmo aos corpos macroscópicos. Mourelatos (2005) chama a atenção para o contraste entre as propriedades intrínsecas e relacionais.
Enquanto vários relatos sobre a opinião de Demócrito, aparentemente citações diretas, mencionam exclusivamente qualidades sensíveis como sendo irreais, um relato de Plutarco inclui na lista de coisas que existem apenas por convenção a noção de “combinação” ou sunkrisis. Se esse relato for genuinamente demócrito, ele ampliaria consideravelmente o escopo da reivindicação: a idéia de que qualquer combinação — pela qual ele presumivelmente significa qualquer agrupamento de átomos — é “irreal” ou meramente “convencional” sugere que Demócrito está fazendo uma distinção mais radical do que aquela entre qualidades sensíveis e não-sensíveis. A implicação seria a de que qualquer coisa percebida, por ser uma percepção de combinações de átomos e não dos próprios átomos, seria suspeita, e não meramente a qualia experimentada por meio de órgãos sensoriais individuais. Um relato realmente atribui a Demócrito uma negação de que duas coisas poderiam tornar-se uma, ou vice-versa (DK 68A42), sugerindo assim que as combinações são consideradas como convencionais.
Os comentadores diferem quanto à autenticidade do relato de Plutarco. Uma vez que a palavra sunkrisis não ocorre em outros relatos, Furley (seguindo Sandbach) sugere que é muito provavelmente um erro para pikron, ‘amargo’ que ocorre em vez disso em outro relato. Furley admite que Plutarco pelo menos entende que os primeiros atomistas estão comprometidos com a visão de que todas as combinações de átomos, tanto quanto as qualidades sensíveis, devem ser entendidas como convencionais e não como reais (Furley 1993 pp. 76-7n7). Isso sugere que tudo no nível macroscópico — ou, estritamente, tudo o que está disponível à percepção — é considerado como irreal. O status ontológico de arranjo ou combinação de átomos para Demócrito é uma questão controversa, que afeta nossa compreensão de sua metafísica, sua relação histórica com Melissus, e a semelhança de sua visão com a distinção de qualidade primária secundária moderna (Wardy 1988; Curd 1998; Lee 2005; Mourelatos 2005; Pasnau 2007). Se considerarmos a tese de “convencionalidade” como restrita a qualidades sensíveis, ainda há uma questão em aberto sobre a razão de Demócrito para negar sua “realidade” (Wardy 1988; O’Keefe 1997; Ganson 1999).
3. Teoria da Percepção
A teoria da percepção de Demócrito depende da alegação de que eidôla ou imagens, as camadas finas de átomos, são constantemente afastadas das superfícies dos corpos macroscópicos e transportadas pelo ar. Atomistas posteriores citam como evidência para isso a erosão gradual dos corpos ao longo do tempo. Essas películas de átomos encolhem e se expandem; somente aquelas que encolhem o suficiente podem entrar no olho. É o impacto deles sobre nossos órgãos sensoriais que nos permite perceber. As propriedades visíveis dos objetos macroscópicos, como seu tamanho e forma, são-nos transmitidas por essas películas, que tendem a ser distorcidas à medida que passam por distâncias maiores no ar, já que estão sujeitas a mais colisões com os átomos do ar. Um relato diferente ou complementar afirma que o objeto visto impressiona o ar pela eidôla, e o ar compactado assim transmite a imagem ao olho (DK 68A135; Baldes 1975). As propriedades percebidas por outros sentidos também são veiculadas por algum tipo de contato. A teoria do gosto em Demócrito, por exemplo, mostra como diferentes sensações gustativas são produzidas regularmente pelo contato com diferentes formatos de átomos.
Theophrastus, que nos dá o mais completo relato a respeito da teoria de Demócrito, critica-a por elevar a expectativa de que os mesmos tipos de átomos sempre causariam aparências semelhantes. No entanto, pode ser que a maioria das explicações sejam direcionadas para o caso normal de um observador típico, e que um relato diferente seja dado quanto às percepções de um observador não-típico, tal como alguém que está doente. O relato de Demócrito, segundo o qual o mel às vezes tem um sabor amargo para as pessoas que estão doentes, depende de dois fatores, nenhum dos quais subtrai a noção de que certos formatos atômicos nos afetam regularmente de uma determinada maneira. Um deles é o de que uma determinada substância como o mel não é muito homogênea, mas contém átomos de diferentes formatos. Embora o mel retire seu caráter normal do tipo predominante de átomo presente, há outros tipos de átomos presentes dentro dele. O outro é o fato de que nossos orgãos-sentidos precisam ser adequadamente harmonizados para admitir um determinado tipo de átomo, e a disposição de nossas vias de passagem pode ser afetada por doenças ou outras condições. Assim, alguém que está doente pode tornar-se excepcionalmente receptivo a um tipo de átomo que é apenas uma pequena parte da constituição geral do mel.
Outros efeitos observados, entretanto, exigem uma teoria segundo a qual os mesmos átomos podem produzir efeitos diferentes sem supor que o observador tenha mudado. A mudança deve então ocorrer no objeto visto. A explicação da cor parece ser desse tipo: Aristóteles relata que as coisas adquirem sua cor “girando,” tropê (CG 1.2, 315b34). Trata-se do termo democritico que Aristóteles traduziu como ‘posição,’ thesis, ou seja, uma das três formas fundamentais pelas quais os átomos podem se alterar e assim aparecer de maneira diferente para nós. Aristóteles dá isso como a razão pela qual a cor não é atribuída aos átomos propriamente ditos. O relato de Lucrécio sobre por que a cor não pode pertencer aos átomos pode ajudar a esclarecer o ponto aqui. Nos dizem que se os átomos do mar fossem realmente azuis, eles não poderiam sofrer uma mudança e parecer brancos (DRN 2.774-5), tal como quando observamos a superfície do mar mudando de azul para branco. Isso parece supor que, enquanto uma aparência de uma propriedade P pode ser produzida por algo que não é P nem não-P, no entanto, algo P não pode aparecer como não-P. Como os átomos não mudam suas propriedades intrínsecas, parece que a mudança em uma propriedade relacional, como a posição relativa dos átomos, é mais provável que seja a causa de percepções diferentes. Na superfície mutante do mar ou na agitação do pombo com seu pescoço irridescente, é evidente que as partes do objeto estão se movendo e se deslocando em suas relações posicionais.
Ao atribuir as causas das qualidades sensíveis às propriedades relacionais dos átomos, Demócrito perde a plausibilidade prima facie de afirmar que as coisas parecem P porque são P. Muito do relato de Theophrastus parece focar na necessidade de tornar plausível que um composto possa produzir uma aparência de propriedades que ele não possui intrinsecamente. Demócrito está enfrentando pelo menos uma linha de senso comum quando afirma que texturas produzem a aparência de calor ou frio, que impactos causam sensações de cor. As listas de exemplos oferecidas, baseadas em associações de senso comum ou experiência episódica, são tentativas de tornar tais reivindicações persuasivas. Diz-se que o calor é causado por átomos esféricos, porque eles se movimentam livremente: a associação comum de movimento rápido com aquecimento pode ser empregada aqui. Betegh (2020) sugere que espaços vazios maiores estão diretamente associados ao aquecimento, ao invés de que a rarefação causa indiretamente o calor ao permitir movimentos atômicos mais livres e mais freqüentes.
Aristóteles às vezes critica Demócrito por afirmar que as sensações visíveis, audíveis, olfativas e gustativas são todas causadas pelo toque (DK 68A119). Não é claro como isso afeta o relato acerca da percepção, pois as fontes nos dizem pouco sobre como se pensa que o tato funciona. Demócrito, no entanto, não parece distinguir entre tato e contato, e pode considerar como não problemático que os corpos comuniquem seu tamanho, forma e textura superficial por meio de impacto físico.
4. A Alma e a Natureza das Coisas Vivas
Em comum com outras teorias antigas sobre os seres vivos, Demócrito parece ter usado o termo psychê para se referir a essa característica distintiva dos seres vivos que explica sua capacidade de realizar suas funções vitais. De acordo com Aristóteles, Demócrito considerava a alma como composta de um tipo de átomo, em particular os átomos de fogo. Isso parece ter sido por causa da associação da vida com o calor, e porque os átomos de fogo esféricos são facilmente móveis, e a alma é considerada como causadora de movimento. Demócrito parece ter considerado o pensamento como sendo causado também pelos movimentos físicos dos átomos. Isso às vezes é considerado como evidência de que Demócrito negou a sobrevivência de uma alma pessoal após a morte, embora os relatos não sejam unívocos sobre isso.
Uma dificuldade enfrentada pelas teorias materialistas sobre os seres vivos é a de dar conta da existência e da reprodução regular de formas funcionalmente adaptadas no mundo natural. Embora os atomistas tenham sucesso considerável em tornar plausível que uma simples ontologia de átomos e do vazio, com as propriedades mínimas dos primeiros, pode explicar uma grande variedade de diferenças nos objetos no mundo perceptível, e também que uma série de efeitos aparentemente ordenados pode ser produzida como subproduto de colisões atômicas desordenadas, o tipo de organização funcional encontrada nos organismos é muito mais difícil de se explicar.
Demócrito parece ter desenvolvido uma concepção da reprodução segundo a qual todas as partes do corpo contribuem para a semente da qual o novo animal cresce, e que ambos os pais contribuem com sementes (DK 68A141; 143). A teoria parece pressupor que a presença de algum material de cada órgão na semente é responsável pelo desenvolvimento desse órgão no novo organismo. As características parentais são herdadas quando a contribuição de um ou outro dos pais predomina no fornecimento da parte apropriada. A descendência é masculina ou feminina de acordo com qual das duas sementes predomina na contribuição de material dos órgãos genitais. Em um cosmo atomista, a existência de espécies particulares não é considerada eterna. Como alguns outros relatos materialistas iniciais, Demócrito defendia que os seres humanos surgiram da terra (DK 68A139), embora os relatos dêem poucos detalhes.
5. Teoria do Conhecimento
Um dos relatos credita Demócrito e Leucippus com a visão de que o pensamento, assim como a sensação, são causados por imagens que se chocam com o corpo de fora, e que o pensamento, tanto quanto a percepção, depende das imagens (DK 67A30). Tanto o pensamento quanto a percepção são descritos como mudanças no corpo. Demócrito aparentemente reconheceu que sua opinião dá origem a um problema epistemológico: é preciso que nosso conhecimento do mundo seja derivado de nossa experiência sensorial, mas que os próprios sentidos não estejam em contato direto com a natureza das coisas, deixando assim espaço para a omissão ou erro. Um fragmento famoso pode corresponder a essa linha de pensamento cético, acusando a mente de destronar os sentidos, embora esses sejam seu único acesso à verdade (DK68B125). Outras passagens falam de uma lacuna entre o que podemos perceber e o que realmente existe (DK 68B6-10; 117). Todavia, o fato de que os átomos não são perceptíveis significa que nosso conhecimento de suas propriedades é sempre baseado na analogia com as coisas do mundo visível. Ademais, os sentidos relatam propriedades que os átomos não possuem realmente, como as cores e os gostos. Assim, o potencial de dúvida sobre nosso conhecimento do mundo externo é grande.
Filósofos posteriores adaptaram uma expressão demócrita ou mallon ou “não mais” no argumento de que algo que parece P e não-P é “não mais” P do que não-P. Argumentos com essa forma foram utilizados para fins céticos, citando as evidências conflitantes dos sentidos a fim de levantar a preocupação sobre nosso conhecimento do mundo (de Lacy 1958). Demócrito não parece estar buscando um programa consistentemente cético, embora ele expresse preocupação com a base de nosso conhecimento.
A idéia de que nosso conhecimento se baseia na recepção de imagens de fora de nós é empregada na discussão de Demócrito sobre os deuses, onde é claro que nosso conhecimento dos deuses vem de eidôla ou gigantescas películas de átomos com as características que atribuímos aos deuses, embora Demócrito negue que eles sejam imortais. Alguns estudiosos consideram isso como um ataque deflacionário à teologia tradicional com base em meras imagens (Barnes 1982, pp. 456-61), mas outros supõem que a teoria postula que esses eidôla são realmente seres vivos (Taylor 1999a, pp. 211-6). Embora o atomismo seja freqüentemente identificado como uma doutrina ateísta em tempos posteriores, não está claro se essa é realmente a visão de Demócrito.
6. Indivisibilidade e Matemática
As razões para supor que existem magnitudes indivisíveis aparentemente decorrem do relato de Zenão de Elea sobre os paradoxos que surgem se a extensão for entendida como infinitamente divisível, ou seja, composta de um número infinito de partes. Os atomistas podem ter procurado evitar esses paradoxos supondo que haja um limite para a divisibilidade.
Não está claro, entretanto, em que sentido os átomos são considerados indivisíveis, e como a necessidade de pequenas magnitudes está relacionada à alegação de que os átomos são indivisíveis. Furley sugere que os atomistas podem não ter feito distinção entre indivisibilidade física e teórica dos átomos (Furley 1967, p. 94). A indivisibilidade física dos átomos parece ser independente do argumento de grandeza indivisível, uma vez que a solidez dos átomos — o fato de não haver nenhum vazio dentro deles — é dita como sendo a razão pela qual eles não podem ser divididos. A existência de espaço vazio entre os átomos é citada como a razão pela qual eles podem ser separados: uma fonte tardia, Philoponus, sugere que os átomos nunca poderiam de fato se tocar, para que não se fundam (DK 67A7). Quer o próprio Demócrito tenha visto ou não essa conseqüência, parece que os átomos são considerados indivisíveis independentemente de seu tamanho. Presumivelmente, porém, existe um menor tamanho de átomo, e supõe-se que isso seja suficiente para evitar os paradoxos da infinita divisibilidade.
Um argumento de reductio ad absurdum relatado por Aristóteles sugere que os atomistas argumentaram a partir da suposição de que, se uma magnitude é infinitamente divisível, nada impede que ela tenha de fato sido dividida em cada ponto. O atomista pergunta então o que restaria: se a resposta for algumas partículas estendidas, como poeira, então a divisão hipotética ainda não foi completada. Se a resposta for nada ou pontos, então a questão é como uma magnitude estendida poderia ser composta a partir do que não tem extensão (DK 68A48b, 123).
Diz-se também que Demócrito contribuiu para a matemática, e que colocou um problema sobre a natureza do cone. Ele argumenta que se um cone é cortado em qualquer lugar paralelo a sua base, as duas faces assim produzidas devem ter o mesmo tamanho ou ser diferentes. Se forem iguais, porém, o cone pareceria ser um cilindro; mas se forem diferentes, o cone teria lados escalonados em vez de contínuos. Embora não esteja claro no relato de Plutarco como (ou se) Demócrito resolveu o problema, parece que ele estava consciente das questões sobre a relação entre o atomismo como uma teoria física e a natureza dos objetos matemáticos.
7. Ética
Os relatos sobre os pontos de vista éticos de Demócrito colocam uma série de problemas interpretativos, incluindo a dificuldade de decidir quais fragmentos são genuinamente demócritos (ver acima, seção 1). Em contraste com as evidências de suas teorias físicas, muitos dos fragmentos éticos são listas de afirmações citadas sem contexto, em vez de discussões filosóficas críticas das visões atomistas. Muitos parecem ser platitudes comuns que seriam consistentes com posições filosóficas bastante diferentes. Assim, apesar do grande número de afirmações éticas, é difícil construir um relato coerente de suas visões éticas. Annas observa o caráter socrático de vários dos ditos e acha que há um tema consistente sobre o papel do próprio intelecto na felicidade (Annas 2002). Os provérbios contêm elementos que podem ser vistos como antecipação das visões éticas mais desenvolvidas de Epicuro (Warren 2002).
É também uma questão de controvérsia se qualquer ligação conceitual pode ser encontrada entre a física atomista e os compromissos éticos atribuídos a Demócrito. Vlastos argumentou que várias características da ética naturalista de Demócrito podem ser traçadas a seu relato materialista da alma e sua rejeição de uma fundamentação sobrenatural para a ética (Vlastos 1975). Taylor é mais cético quanto à proximidade da conexão entre a visão ética de Demócrito e sua física atomista (Taylor 1999a, pp. 232-4).
Os relatos indicam que Demócrito estava comprometido com uma espécie de hedonismo iluminado, no qual o bem era considerado um estadointerno da mente e não algo externo a ela (ver Hasper 2014). O bem recebe muitos nomes, entre eles euthymia ou alegreza, assim como termos privativos, por exemplo, a ausência de medo. Alguns fragmentos sugerem que a moderação e a atenção na busca dos prazeres é benéfica; outros se concentram na necessidade de libertar-se da dependência da fortuna, moderando o desejo. Várias passagens enfocam a capacidade humana de agir sobre a natureza por meio do ensino e da arte, e uma noção de equilíbrio e moderação que sugere que a ética é concebida como uma arte de cuidar da alma análoga aos cuidados da medicina com o corpo (Vlastos 1975, pp. 386-94). Outros discutem a comunidade política, sugerindo que existe uma tendência natural para formar comunidades.
8. Antropologia
Embora a evidência não seja certa, Demócrito pode ser o criador de uma antiga teoria sobre o desenvolvimento histórico das comunidades humanas. Em contraste com a visão Hesídica de que o passado humano incluiu uma era dourada da qual o presente é um declínio, uma tradição alternativa que pode derivar de Demócrito sugere que a vida humana era originalmente como a dos animais; ela descreve o desenvolvimento gradual das comunidades humanas para fins de ajuda mútua, a origem da língua, do artesanato e da agricultura. Embora o texto em questão não mencione Demócrito pelo nome, ele é a fonte mais plausível (Cole 1967; Cartledge 1997).
Se Demócrito é a fonte para essa teoria, isso sugere que ele levou a sério a necessidade de levar em conta a origem de todos os aspectos do mundo de nossa experiência. As instituições humanas não poderiam ser assumidas como características permanentes ou dons divinos. As explicações oferecidas sugerem que a cultura humana se desenvolveu como uma resposta à necessidade e às dificuldades de nosso ambiente. Tem sido sugerido que o tamanho infinito do universo atomista e, portanto, o número de combinações e arranjos possíveis que ocorreriam apenas por acaso são importantes no desenvolvimento de um relato que possa mostrar como as instituições humanas surgem sem assumir origens teleológicas ou teológicas (Cole 1967). Embora aqui, como em outras questões, a evidência seja menos do que certa, é plausível que Demócrito tenha desenvolvido uma explicação poderosa e consistente acerca de grande parte do mundo natural a partir de apenas alguns fundamentos.
Para a recepção e posterior história do atomismo Demócrito, veja o verbete relacionado sobre o atomismo antigo.
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Bibliography
Texts
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Overviews
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- Translation of S. Luria’s Demokrit, by C.C.W. Taylor (must be registered at academia.edu).
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Acknowledgments
I wish to thank the ancient philosophy editor John Cooper, A.P.D. Mourelatos and Tim O’Keefe for helpful comments and suggestions.
Este artigo foi publicado originalmente no site Plato Stanford: https://plato.stanford.edu/entries/democritus/