Não há um Primeiro Princípio para o Criticismo — George Santayana

“Não há um Primeiro Princípio para o Criticismo” foi extraído da obra Ceticismo e Fé Animal, de George Santayana.


Introdução1

Aqui está mais um sistema filosófico. Se o leitor sente-se tentado a sorrir, posso assegurar-lhe de que sorrio junto com ele, e que meu sistema — para o qual este volume é uma introdução crítica —  difere muito em espírito e em pretensões daquilo que se costuma chamar assim. Em primeiro lugar, meu sistema não é meu, nem é novo. Estou apenas tentando expressar para o leitor os princípios aos quais ele apela quando sorri. Há convicções nas profundezas de sua alma, por trás de todas as suas óbvias e papagaiadas crenças, sobre as quais eu construiria nossa amizade. Tenho um grande respeito pela ortodoxia; não por aquelas ortodoxias que prevalecem em escolas ou nações particulares, e que variam de tempos em tempos, mas por uma certa ortodoxia astuta que o sentimento e a prática dos leigos sustentam em todos os lugares. Creio que o bom senso, grosso modo, é tecnicamente mais sólido do que as escolas especiais de filosofia, pois cada uma das quais esquiva e ignora metade dos fatos e metade das dificuldades em sua ânsia de encontrar em algum detalhe a chave para o todo. Animam-me a desconfiança em relação a todos os grandes palpites e a simpatia com os velhos preconceitos e com as opiniões cotidianas da espécie humana: eles são mal expressos, mas estão bem fundamentados. A novidade que minha versão das coisas pode ter é a de simplesmente evitar ocasiões de sofismas, dando às crenças cotidianas uma forma mais precisa e circunspecta. Não pretendo me colocar no coração do universo, nem em sua origem, nem traçar sua periferia. Apenas cerco a verdade tal como uma exploração e imaginação animal podem fazer, primeiro por uma quarta parte, e depois outra, esperando que a realidade não seja mais simples do que minha experiência dela, mas muito mais extensa e complexa. Em filosofia, estou exatamente onde me encontro na vida diária; não seria honesto se assim não fosse. Aceito os mesmos testemunhos variados, curvo-me aos mesmos fatos óbvios, faço conjecturas não menos instintivas, e admito a mesma ignorância circundante.

que tolice

Meu sistema, portanto, não é um sistema do universo. Os Reinos do Ser2 dos quais falo não são partes de um cosmos, nem um grande cosmos conjuntamente: são apenas tipos ou categorias de coisas que eu acho conspicuamente diferentes e que vale a pena distinguir, ao menos segundo meus próprios pensamentos. Não sei quantas coisas no universo em geral podem se enquadrar em cada uma dessas classes, nem que outros Reinos do Ser podem [ou] não existir, em relação aos quais não tenho nenhuma abordagem, e nem mesmo cheguei a distingui-los em minha observação pessoal do mundo. A lógica, assim como a linguagem, é em parte uma construção livre e em parte um meio de simbolizar e explorar de modo expressivo as diversidades existentes; e, embora algumas línguas, dada a constituição e os hábitos de um homem, possam parecer-lhe mais bonitas e convenientes do que outras, é um impulso tolo em um patriota o de insistir que somente sua língua nativa é inteligível ou correta. Nenhuma língua ou lógica é correta no sentido de ser idêntica aos fatos para os quais é utilizada como expressão, no entanto, cada uma pode estar certa por ser fiel a esses fatos, uma vez que, com efeito, uma tradução pode ser fiel. Meu empenho é o de pensar diretamente em tais termos, da maneira que me são oferecidos, de limpar minha mente da hipocrisia e libertá-la da prisão das tradições artificiais; mas não peço a ninguém que pense de acordo com meus termos, se esse alguém preferir outros. Deixe que essa pessoa limpe melhor, se puder, as janelas de sua alma, para que a variedade e a beleza da perspectiva possa se espalhar mais claramente diante dela.

Ademais, meu sistema, salvo no sentido literalmente zombeteiro da palavra, não é metafísico. Ele contém muitas críticas à metafísica e alguns refinamentos especulativos — a exemplo da doutrina da essência — que não são familiares ao público; e eu não deixo de ser metafísico por não gostar de dialética ou por desprezar coisas imateriais: na verdade, é de coisas imateriais, de essência, de verdade e de espírito que eu falo predominantemente. Porém, a lógica, a matemática e a psicologia literária (quando francamente literária) não são metafísicas, embora seu objeto seja imaterial, e sua aplicação às coisas existentes seja muitas vezes questionável. Metafísica, no sentido próprio da palavra, é física dialética, ou uma tentativa de determinar matérias de fato por meio de construções lógicas, morais ou retóricas. Ela surge por uma confusão daqueles Reinos do Ser que tenho o cuidado especial de distinguir. Ela não é nem especulação física, nem lógica pura ou literatura honesta, mas (como no tratado de Aristóteles chamado pela primeira vez por esse nome) um híbrido das três, materializando entidades ideais, transformando harmonias em forças, e dissolvendo coisas naturais em termos de discurso.  As especulações sobre o mundo natural, tais como as dos filósofos jônicos, não são metafísicas, mas simplesmente cosmologia ou filosofia natural. Ora, na filosofia natural eu sou um materialista decidido — aparentemente o único vivo; e estou bem ciente de que os idealistas também gostam de chamar o materialismo de metafísica, em um tom bastante irado, de modo a desacreditá-la, assimilando-a a seus próprios sistemas. Entretanto, meu materialismo, apesar de tudo isso, não é metafísico. Não confesso saber o que é a matéria em si, e não sinto confiança na adivinhação desses esprits forts3 que, ao levar uma vida de vício, pensavam que o universo deveria ser composto de nada mais do que dados e bolas de bilhar. Espero que os homens da ciência me digam o que é a matéria, até onde possam descobri-la, e não estou nada surpreso ou perturbado com a abstração e a vagueza de suas concepções finais: como que nossas noções acerca de coisas tão remotas na escala e no alcance de nossos sentidos podem ser tudo menos esquemáticas? — Todavia, o que quer que seja a matéria, eu a chamo de matéria corajosamente, assim como chamo meus conhecidos de Smith e Jones sem conhecer seus segredos: seja o que for, ela deve apresentar os aspectos e sofrer os movimentos dos objetos brutos que preenchem o mundo: e se a crença na existência de partes e movimentos ocultos na natureza for metafísica, então, a empregada cozinheira é uma metafísica sempre que descasca uma batata.

Por fim, meu sistema, embora, é claro, tenha sido formado sob o fogo das discussões contemporâneas, não é nenhuma fase de qualquer movimento da atualidade4. Não posso levar a sério a atual oscilação dos amantes-de-imagens5 contra a inteligência. Eu amo as imagens tanto quanto eles, mas as imagens devem ser descontadas quando estamos em nossa vida cotidiana, quando tratamos de negócios. Também aprecio as outras reformas e rebeliões que constituíram a história da filosofia. Aprecio suas severas críticas umas às outras e suas diversas descobertas; o problema é que cada uma, por sua vez, negou ou esqueceu uma verdade muito mais importante do que a que afirmou. Os primeiros filósofos, os observadores originais da vida e da natureza, foram os melhores; e acho que somente os indianos e os naturalistas gregos, juntamente com Espinosa, tiveram razão sobre a questão principal, a relação do homem e de seu espírito com o universo. Não é a falta de vontade de ser um discípulo que me leva a olhar para além da confusão moderna das filosofias: eu deveria aprender de bom grado sobre todas elas, se elas tivessem aprendido mais umas das outras. Mesmo assim, me esforço para manter a percepção positiva de cada uma, reduzindo-a à escala da natureza e mantendo-a em seu lugar; assim, sou um platonista em lógica e moral, e um transcendentalista no solilóquio romântico, quando opto por me entregar a ele. Também não há necessidade, ao ser ensinado por nenhum mestre, de tornar-se eclético. Todas essas perspectivas dão vislumbres da mesma floresta, e um mapa justo e verdadeiro dela deve ser desenhado para uma escala única, por meio de um método de projeção e em um único estilo de caligrafia. Toda verdade conhecida pode ser apresentada em qualquer língua, embora o sotaque e a poesia de cada uma possa ser incomunicável; e como me contento em escrever em inglês, embora essa não seja minha língua materna, e embora em assuntos especulativos eu não tenha muita simpatia pelo pensamento inglês, me contento em seguir a tradição européia da filosofia, por pouco que eu respeite sua metafísica retórica, seu humanismo e sua mundanização.

Há um ponto, de fato, no qual lamento sinceramente não poder lucrar com a orientação de meus contemporâneos. Há agora um grande impulso na filosofia natural e matemática e os tempos parecem maduros para um novo sistema da natureza, ao mesmo tempo engenhoso e abrangente, como não acontecia desde os primeiros dias da Grécia. Em breve todos nós poderemos estar acreditando em uma cosmologia honesta, comparável à de Heráclito, Pitágoras, ou Demócrito. Desejo alegria a tais sistemas científicos, e, se eu fosse competente para seguir ou prever seu procedimento, eu deveria aproveitar com prazer seus resultados, que não devem ser menos pitorescos do que instrutivos. No entanto, o que existe hoje é tão hesitante, obscuro e confuso por causa da má filosofia que não há como saber que partes podem ser sólidas e quais partes são meramente pessoais e dispersáveis. Se eu fosse um matemático, sem dúvida deveria me orgulhar, se não ao leitor, de um sistema elétrico ou logístico do universo expresso em símbolos algébricos. Para o bem ou para o mal, sou um homem ignorante, quase um poeta, e só posso distribuir um banquete daquilo que todos sabem. Felizmente, a ciência exata e os livros dos sábios não são necessários para estabelecer minha doutrina essencial, nem qualquer um deles pode reivindicar um mandado superior àquilo que ela tem em si mesma: porque ela baseia-se na experiência pública. Ela precisa, para provar isso, apenas das estrelas, das estações, do enxame de animais, do espetáculo do nascimento e da morte, das cidades e das guerras. Minha filosofia justifica-se, e tem sido justificada em todas as épocas e países, pelos fatos que se dão diante dos olhos de todo homem; e não é necessária grande sagacidade para descobri-la, apenas (o que é mais raro do que a sagacidade) a candura e a coragem. O estudo não liberta os homens da superstição quando suas almas estão acovardadas ou perplexas; e, na falta do estudo, a clareza do olhar e a reflexão honesta podem discernir os rumos do mundo, e distinguir a fronteira entre a verdade e o poder da imaginação. No passado ou no futuro, minha língua e meus conhecimentos obtidos seriam diferentes, mas sob qualquer céu que eu tivesse nascido, uma vez que ele é o mesmo céu, eu deveria ter adotado essa mesma filosofia.

Não há um Primeiro Princípio para o Criticismo6

Um filósofo é obrigado a seguir a máxima dos poetas épicos e a mergulhar in medias res7. A origem das coisas, se é que as coisas têm uma origem, não pode ser revelada a mim, se é que pode ser revelada de algum modo, até que eu tenha viajado para muito longe delas, e muitas revoluções do sol devem preceder meu primeiro alvorecer. A luz, conforme ela aparece, oculta a vela. Talvez não haja nenhuma fonte das coisas, nenhuma forma mais simples a partir da qual elas tenham evoluído, mas somente uma sucessão interminável de diferentes complexidades. Nesse caso, nada se perderia se nos uníssemos ao cortejo onde quer que nos encontrássemos, e o seguíssemos enquanto as pernas aguentassem. Cada um ainda poderia observar um típico pouquinho dele; ninguém teria entendido nada melhor se tivesse visto mais coisas; só teria mais a explicar. A própria noção de entender ou de explicar qualquer coisa seria então absurda; no entanto, essa noção é extraída de uma presunção ou experiência vigente segundo a qual, pelo menos em algumas direções, as coisas crescem a partir de coisas mais simples: o pão pode ser assado, a massa, o fogo e um forno são combinados para assá-lo. Tal episódio é suficiente para estabelecer a noção de origens e explicações, sem de modo algum implicar que a massa e o forno quente são, em si mesmos, fatos primários. Um filósofo pode, portanto, perfeitamente se comprometer a encontrar episódios de evolução no mundo: pais com filhos, tempestades com naufrágios, paixões com tragédias. Se ele começar no meio, ainda começará no início de algo, e talvez tão no início das coisas quanto ele poderia possivelmente começar.

Por outro lado, toda essa suposição pode estar errada. As coisas podem ter tido alguma origem mais simples, ou podem conter elementos mais simples. Nesse caso, caberá ao filósofo provar esse fato; ou seja, encontrar, nos objetos complexos presentes, provas de sua composição a partir do simples. Porém, nessa prova ele também estaria começando do meio; e chegaria às origens, ou aos elementos, apenas no final de sua análise.

O caso é semelhante em relação aos primeiros princípios do discurso. Eles nunca poderão ser descobertos, se é que podem ser descobertos de alguma maneira, até que sejam há muito tomados como certos, e empregados na própria investigação que os revela. Quanto mais convincente for a lógica, menores e mais simples serão seus primeiros princípios; contudo, ao descobri-los, e deduzindo o resto a partir deles, deve-se primeiramente empregá-los inconscientemente, se eles são os princípios que emprestam a convicção ao discurso atual; de modo que a mente deve confiar nas pressuposições vigentes não menos ao descobrir que elas são lógicas — ou seja, justificadas por pressuposições gerais inquestionáveis — do que ao descobrir que são arbitrárias e meramente instintivas.

É verdade que, bem separadamente do discurso vivo, um conjunto de axiomas e postulados, tão simples quanto quisermos, pode ser postulado a esmo, e deduções podem ser feitas a partir deles ad libitum8; mas tal lógica pura é ociosa, a menos que encontremos ou assumamos que o discurso ou a natureza realmente a segue; e não é por dedução dos primeiros princípios, escolhidos arbitrariamente, que o raciocínio humano de fato procede, mas por hábitos soltos de evocação mental os quais esses princípios, na melhor das hipóteses, podem exibir posteriormente em uma forma idealizada. Ademais, se pudéssemos desnudar nosso pensamento em prol da arena de uma lógica perfeita, estaríamos realizando, talvez, uma notável façanha dialética; mas essa façanha seria um mero acréscimo às complexidades da natureza, e não uma simplificação. Este mundo heterogêneo, além de suas outras artimanhas, conteria, então, os lógicos e seus esportes. Se por acaso, ao nos voltarmos para os fatos correntes, descobríssemos pela análise que eles obedecem a essa lógica ideal, nós deveríamos novamente estar iniciando a partir das coisas tal como as encontramos no estado bruto, e não com os primeiros princípios.

Pode-se observar de passagem que nenhuma lógica, à qual se tenha atribuído um império sobre a natureza ou sobre o discurso humano, tem sido uma lógica cogente; ela tem sido, na proporção de sua existência, uma mera descrição, psicológica ou histórica, de um procedimento atual; enquanto que a lógica pura, quando finalmente e muito recentemente foi claramente concebida, acabou por não ter aplicação necessária em nada, e por ser meramente uma excursão parabólica ao reino da essência.

No emaranhado de crenças humanas, conforme convencionalmente expressas em conversas e na literatura, é fácil distinguir um fator obrigatório chamado fatos ou coisas de um fator mais opcional e argumentativo chamado de sugestão ou interpretação; não é que aquilo que chamamos de fatos seja de todo indubitável, ou composto de dados imediatos, mas é que, na direção dos fatos, chegamos muito mais cedo a uma conclusão, e sentimos que estamos a salvo do criticismo. Reduzir as crenças convencionais aos fatos em que elas se baseiam — por mais questionáveis que esses fatos possam ser de outras maneiras — é limpar nossa consciência intelectual da ilusão voluntária ou evitável. Se aquilo que chamamos de fato ainda nos engana, sentimos que não somos culpados; não deveríamos chamá-lo de fato, será que vimos alguma forma de iludir o reconhecimento do fato? Reduzir a crença convencional ao reconhecimento de matérias de fato é um criticismo empírico do conhecimento.

Quanto mais drástico for esse criticismo, e quanto mais revolucionária for a visão à qual ele me reduz, mais claro será o contraste entre o que eu considero saber e o que eu pensava saber. Contudo, se esses meros fatos fossem tudo o que eu tinha como base para continuar, como cheguei a essas conclusões estranhas? Que princípios de interpretação, que tendências alimentar, que hábitos de inferência estavam em jogo em mim? Pois se nada nos fatos justificava minhas crenças, algo em mim deve tê-las sugerido. Desenredar e formular tais princípios subjetivos de interpretação é um criticismo transcendental do conhecimento.

O criticismo transcendental, nas mãos de Kant e de seus seguidores, foi um instrumento cético utilizado por pessoas que não eram céticas. Assim, eles importaram em seus argumentos muitas suposições acríticas, tais como as de que essas tendências alimentadas devem ser as mesmas em todos, que as noções de natureza, história ou mente que eles levaram as pessoas a adotar eram as noções certas ou padrão sobre esses assuntos, e que era glorioso, em vez de ignominioso ou sofístico, construir sobre esses princípios uma enciclopédia de falsas ciências e chamá-la de conhecimento. Um verdadeiro cético começará colocando todas essas convenções acadêmicas como pura ficção confessada; e ele perguntará antes se — após a remoção de todas essas tendências alimentadas e arbitrárias que foram importadas para a experiência — qualquer elemento factual permanecerá afinal. A única função crítica do transcendentalismo é a de levar o empirismo para casa e desafiá-lo a produzir qualquer conhecimento que seja a respeito dos fatos. E o criticismo empírico não será capaz de fazer isso. Assim como a falta de atenção leva as pessoas comuns a assumir como parte dos fatos fornecidos tudo o que sua lógica transcendental inconsciente lhes acrescentou, também a falta de atenção, em um nível mais profundo, leva o empirista a assumir uma existência em seus fatos radicais que não lhes pertence. Ao ficar indefeso e resignado diante deles, ele está, com toda a sua segurança, obedecendo à sua ilusão e não às suas provas. Assim, o criticismo transcendental, utilizado por um profundo cético, pode obrigar o criticismo empírico a mostrar sua mão9. Ele havia confundido suas cartas, e estava blefando sem saber.

Notas de Bernardo Santos:

  1. Prefácio da obra Ceticismo e Fé Animal: Introdução a um sistema de filosofia, de George Santayana ↩︎
  2. Cf. The Realms of Being, de Santayana. ↩︎
  3. Do francês, “pessoas que possuem grandes capacidades intelectuais”. ↩︎
  4. Ou seja, a filosofia de Santayana não configura uma vertente do Idealismo alemão ou da Fenomenologia, nem do Pragmatismo. ↩︎
  5. Havia filósofos e escritores, relevantes durante a época de Santayana, que colocavam grande ênfase na importância dos símbolos e imagens mentais, como Henri Bergson. Bergson, por exemplo, discutia a importância da intuição e da experiência direta do tempo, contrastando com abordagens mais racionais. A crítica de Santayana pode ser entendida como uma resposta a tendências idealistas, fenomenológicas ou até mesmo certas interpretações do pragmatismo que ele considerava excessivamente dependentes de imagens mentais ou experiências subjetivas. Ele advogava por um equilíbrio onde a imaginação fosse valorizada, mas não sem a devida crítica e consideração racional. Santayana acreditava que, embora as imagens e a imaginação tenham valor, elas devem ser submetidas ao escrutínio da razão e do intelecto. Ele via o amor excessivo por imagens — “image-lovers” — como uma abordagem que poderia obscurecer a clareza e a objetividade que a inteligência racional proporciona. ↩︎
  6. Criticismo, em filosofia, é a abordagem metodológica desenvolvida por Immanuel Kant. Ele se caracteriza pela ênfase nas análises críticas sobre a possibilidade, a origem, o valor, as leis e os limites do conhecimento racional, constituindo-se como o ponto de partida para a reflexão filosófica. ↩︎
  7. Do latim, “no meio das coisas”. ↩︎
  8. Do latim, “à vontade” ou “ao bel-prazer”. ↩︎
  9. O expoente mais notável do empirismo, é David Hume. Ele sustentava que todo conhecimento humano deriva da experiência sensorial e dos fatos observáveis, criticando a idéia de conhecimento a priori ou inato. Hume influenciou significativamente o pensamento filosófico posterior, incluindo a filosofia de Immanuel Kant, que desenvolveu o criticismo transcendental como uma resposta ao ceticismo empírico de Hume. Contudo, Santayana usa o termo “criticismo empírico” para descrever uma abordagem que busca reduzir as crenças convencionais aos fatos em que elas se baseiam. Essa abordagem é, em muitos aspectos, alinhada com o empirismo radical de William James, que enfatiza a importância da experiência e dos dados empíricos como base do conhecimento. O uso de Santayana da expressão “fatos radicais” ressoa com o empirismo de James, que sugere que a experiência direta deve ser a base de todo conhecimento e que qualquer construção teórica deve se enraizar em dados empíricos. ↩︎

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Sobre o Autor ou Tradutor

Bernardo Santos

Aluno do Olavão, bacharel em matemática, amante da Filosofia, tradutor e músico nas horas vagas, Bernardo Santos é administrador principal do Diário Intelectual.

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