Libido Dominandi: Libertação sexual e controle político – E. Michael Jones

Resenha de Libido Dominandi: Libertação sexual e controle político, de E. Michael Jones, Vide Editorial.

“Carregamos todos, dentro de nós, as nossas masmorras, os nossos crimes e as nossas devastações. Mas nossa tarefa não é soltá-los pelo mundo, mas combate-los em nós mesmos e nos outros.”

– Albert Camus

“Por sermos dois egos, há uma guerra civil no interior de todos nós […] há uma esquizofrenia no interior de todos nós.”

– Martin Luther King Jr.

Prolífico autor acerca destes temas, no livro “Libido Dominandi: Libertação Sexual e Controle Político”, Jones apresenta a sua imensa capacidade de enxergar os fatos decisivos para as mudanças político-sociais do ocidente, observando-os não de maneira atomizada e amorfa, mas com uma ordem hierárquica e dotada de sentido de um modo que poucos analistas políticos conseguiriam observar. 

A principal premissa do livro é que a revolução sexual ocorrida no ocidente após a década de 60 (mas que há muito já havia sendo orquestrada pelo poderio liberal) possuía a intenção de libertar as paixões humanas apenas de maneira secundária: primariamente, a verdadeira intenção foi a de separar ainda mais as relações entre a Igreja e a sociedade, fazendo com que o Estado ganhasse mais poder social em detrimento da redução do poderio espiritual da Igreja Católica e do cristianismo como um todo.

Para sua demonstração, Jones realiza um grande apanhado histórico de fatos que possuem conexão entre si. O livro cobre uma faixa temporal que segue uma ordem cronológica, indo desde a Revolução Francesa até a década de 70. Durante o translado histórico realizado pelo livro, Jones cita e esmiúça a biografia de figuras históricas que apresentaram embrionariamente as bases teóricas que guiaram a revolução sexual do ocidente, como o Marquês de Sade, Adam Weishaupt (fundador da sociedade Illuminati), Freud, Claude McKay, e tutti quanti.

Tão impactante quanto pouco comentada, a revolução sexual é para Eugene Michael Jones um dos acontecimentos centrais do ocidente no século XX. Autor de outros livros como The Jewish Revolutionary Spirit and its Impact on World History e Degenerate Moderns: Modernity as Rationalized Sexual Misbehavior, as conspirações políticas são os principais alvos de comentários das obras de E. Michael Jones, onde ele demonstra quais forças e agentes políticos foram centrais para as mudanças sociais que ocorreram em ritmo acelerado nas últimas décadas.

Ademais, a partir de uma detida leitura do livro, nota-se que a revolução sexual foi um campo eminentemente interdisciplinar, acontecendo em várias frentes de batalha: desde a promiscuidade sexual fomentada pela música até a psicologia comportamental (behaviorismo), incluindo as campanhas de controle de natalidade, a secularização do protestantismo, as ações políticas fomentadas pelo Movimento dos Direitos Civis e a instrumentalização da comunidade afro-americana, que até então era vista pelos intelectuais liberais como o símbolo da libertação sexual no Ocidente.

Junto aos variados fatos históricos apresentados por Jones, há uma tendência psicológica intrínseca a todas as principais figuras responsáveis pela revolução sexual no Ocidente: a culpa enquanto motor primário dos movimentos políticos seculares. 

A maior parte dos intelectuais que possuía o amor-“livre” como bandeira política era psicologicamente atormentada pela culpa de não conseguir se enquadrar corretamente nos moldes monogâmicos dos relacionamentos conjugais segundo a doutrina católica. De maneira não tão curiosa, a apologia do amor-livre nunca partiu de pessoas bem estabelecidas na moral cristã.

Estes moldes, além de serem necessários para a manutenção de uma ordem social saudável no Ocidente, foram fomentados pela Igreja Católica, pois a fidelidade conjugal é um dos principais elos que sustentam a família: e a família, por sua vez, é uma das bases da harmonia social.

Todavia, incapazes de se adequarem à família e ao invés de observarem a fidelidade conjugal como um dos princípios da ordem social, os intelectuais liberais que instigaram a revolução sexual viam estes imperativos como uma imposição arbitrária da Igreja Católica e da “moralidade branca”. 

Tendo a opressão por pressuposto, eles lutaram para transformar as suas vidas sexualmente desregradas em uma norma social: em vez de ouvirem a culpa de sua própria consciência e assumirem seus crimes, combatendo-os neles mesmos e nos outros, os intelectuais decidiram reformar a sociedade à sua própria imagem e semelhança, atribuindo a culpa não às suas próprias transgressões, mas às leis sociais, que eram consideradas opressoras e arbitrárias.

Dentre os responsáveis pela revolução sexual, Martin Luther King foi o indivíduo que melhor conseguiu observar tal incongruência. Apesar de ter sido casado e ter uma vida sexual desregrada, em alguns sermões o pastor batista afirmou estar vivendo uma guerra civil interior, onde por vezes o lado que representava os seus maus hábitos sexuais se saía vencedor. 

Entretanto, embora ele tenha chegado perto de reconhecer essa dualidade, a sua omissão tomou a vaidade como ponto de partida: com medo de ser reconhecido como um hipócrita por seus amigos que lutavam pelos Direitos Civis e que sabiam de sua vida dupla, King decidiu se silenciar perante as afirmações de que a causa da pobreza dos guetos negros era a desordem familiar, que estava profundamente relacionada com a ausência de uma ordem moral sexual.

No encerramento do livro, o doutor Jones realiza uma espécie de estudo de caso, mostrando como a libertação sexual é utilizada na prática para o domínio das massas. Para isto, ele cita o emblemático “escândalo Lewinsky”, ocorrido durante o governo de Bill Clinton. O ex-presidente não só foi conhecido pela grande apologia das pautas eugenistas e contraceptivas, como também por seus escarcéus sexuais.

Bill Clinton manteve relações sexuais com uma estagiária da Casa Branca chamada Mônica Lewinsky. A controvérsia se deu não apenas por conta da relação entre os dois, mas principalmente por conta do local onde o escândalo se deu: o sexo oral no Salão Oval. 

Entretanto, dada a gravidade do escândalo, o movimento feminista se omitiu em denunciar a situação, não apenas por ser um dos braços políticos e sociais do presidente, mas também porquê (nas palavras da feminista Patricia Smith), todo o movimento feminista e outras figuras do governo estavam envolvidos sexualmente em algum tipo de escândalo. 

Clinton sabia que “uma nação que gasta bilhões por ano em pornografia não poderia responder com indignação, muito menos com ultraje, quando o presidente dos Estados Unidos fosse implicado numa performance pornográfica pessoal no Salão Oval”. Se a roupa suja de Clinton fosse lavada em público, todos temiam o Armagedom em que os pecados dos republicanos, democratas e jornalistas também seriam expostos. Ele não cairia sozinho.

Por tal razão, uma parcela significativa dos indivíduos revoltados com o escândalo Lewinsky (até mesmo a oposição!) se omitiu em denunciar o presidente e decidiu não levar o seu processo de impeachment até as últimas consequências. Este é um exemplo prático de como a libertação sexual pode ser utilizada para a instrumentalização política. 

Ademais, E. Michael Jones é assertivo em dizer que a libertação sexual foi principalmente fomentada no meio político conservador, que é o principal responsável por combatê-la e denunciá-la. Como os políticos agirão contra a revolução sexual quando estão pessoalmente enfiados até a lama na licenciosidade sexual? O político que denunciasse a promiscuidade de Clinton estaria denunciando também a si mesmo: afinal, as pessoas que caem na promiscuidade sexual são intoxicadas e não possuem força para se opor à violação da lei, porque elas mesmas são cúmplices remotas do ato.

O mesmo tipo de chantagem se estende às massas. A população que fora corrompida por várias décadas de promiscuidade sexual escolheu o presidente Clinton, e mesmo após o escândalo Lewinsky, viam-se obrigadas a defendê-lo ou ao menos se omitir, porque viam nele a proteção de seus desejos sexuais ilícitos e de suas transgressões.

Conforme afirma Edmunde Burke, as paixões devem ser submetidas ao crivo de um poder controlador: quando este poder não é interno, ele inevitavelmente deverá ser imposto ad extra. Os homens de mente imoderada não são verdadeiramente livres, pois se o poder controlador de suas paixões não provém deles próprios, alguém terá de controlá-los; portanto, as suas paixões, ao serem totalmente desprendidas, forjam os seus próprios grilhões.

Libertas da moralidade cristã, as paixões sexuais são como pequenos-demônios soltos da Caixa de Pandora: uma vez livres, dificilmente retornarão ao seu lugar de origem. As consequências da revolução sexual e a racionalização das paixões foram particularmente sentidas pelas mulheres, que tinham de lidar com os filhos enquanto solteiras, tinham de passar por abortos, além de outros males decorrentes da revolução.

O livro de E. Michael Jones obtém êxito não apenas em rastrear todos os fatos históricos que levaram ao atual estado de coisas, mas também em mostrar que a revolução sexual ocorreu uma vez e tomou conta das relações sociais como uma irrefreável bola de neve.  Resta aos poucos que ainda possuem alguma consciência reconhecer as consequências deste evento catastrófico dentro de si próprios, combatendo-as ao invés de soltá-las pelo mundo.


Esta resenha não tem a intenção de substituir a leitura do livro, que só é vendido no site da Vide Editorial. Lembre de utilizar nosso cupom de desconto DIARIO5 no momento da compra.

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Sobre o Autor ou Tradutor

Lucas de Souza

Estudante de Direito, amante da literatura inglesa e músico nas horas vagas.

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