A Nova Era e a Revolução Cultural: Fritjof Capra e Antonio Gramsci – Olavo de Carvalho

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A Nova Era e a Revolução Cultural: Fritjof Capra e Antonio Gramsci foi escrita pelo filósofo e professor Olavo de Carvalho em 1994 e atualmente é publicada pela Vide Editorial. A obra contém aproximadamente 240 páginas e é composta por: dois ensaios — um sobre Fritjof Capra, porta-voz da ideologia da Nova Era, e outro sobre Antonio Gramsci, ideólogo defensor da Revolução Cultural; um capítulo, no qual o filósofo aponta as semelhanças entre as duas ideologias expostas nos ensaios; e um apêndice constituído por vários artigos jornalísticos, escritos em épocas diferentes, que relatam a atuação da esquerda política no Brasil e reforçam a compreensão da tese defendida no ensaio sobre as idéias de Gramsci.

A Nova Era e a Revolução Cultural é o primeiro livro de uma trilogia que visa situar a cultura brasileira no quadro maior das Idéias Ocidentais. Ele pode ser lido e compreendido separadamente dos outros dois livros que o seguem – O Jardim das Aflições e O Imbecil Coletivo –, no entanto, só é possível captar a profundidade da intenção e do pensamento do autor com a leitura das três obras. 

O objetivo desse primeiro livro é analisar duas das ideologias que eram predominantes no Brasil entre as décadas de 80 e 90 – a Nova Era de Capra, que era popular entre os círculos científicos e empresariais, e a Revolução Cultural de Gramsci, difundida no meio político e cultural. Segundo o filósofo, as duas idéias são semelhantes, embora uma se apresente como oposição à outra, e ambas teriam sido aceitas e propagadas no Brasil sem a menor contestação nem a mais breve análise. As consequências disso, nos diz Olavo, foram desastrosas, e, embora elas não sejam mais predominantes, até hoje milhões de brasileiros sofrem dos efeitos causados pelo impacto cultural dessas ideologias.


1. A Nova Era, Fritjof Capra

O primeiro ensaio foi escrito em 1993, poucos meses antes da visita de Capra ao Brasil para divulgar seu livro “O Ponto de Mutação”, publicado pela primeira vez em 1982. Nele, Olavo expõe brevemente o conteúdo do livro, demonstrando de maneira bastante humorada os erros cometidos em cada um dos pontos levantados pelo seu escritor, revelando a total ignorância deste sobre os assuntos nos quais ele é reconhecido mundialmente como autoridade.

Por exemplo, Capra afirma que a história do mundo chegou em um ponto de mudança e que a humanidade deve seguir seus conselhos e mudar de curso para acelerar o advento da Nova Era. Uma das principais transformações que ele aponta como fundamental para que isso ocorra é o fim do patriarcado. Para acabar com o patriarcado, ele sugere que a humanidade inspire-se na civilização chinesa, pois a sua concepção da natureza humana, sobretudo expressa no I Ching, contrasta, segundo Capra, com a nossa cultura patriarcal.

No entanto, Olavo nos diz que, ao lermos o I Ching, encontraremos recomendações como a seguinte: “A esposa deve ser sempre guiada pela vontade do senhor da casa, isto é, pelo pai, pelo marido ou pelo filho adulto. O lugar dela é dentro de casa”. Ou seja, como alternativa a um suposto patriarcado, Capra estaria sugerindo que a humanidade substitua o sistema atual por aquele adotado em um período da história chinesa que foi marcado pelo predomínio masculino sobre a mulher, ou seja, que se troque aquilo que ele imagina ser um patriarcado por um sistema que, de fato, foi patriarcal. Tal seria apenas um dos vários contra-sensos encontrados no livro de Capra.

Olavo ainda afirma que Capra acertou quando afirmou que a Nova Era opõe-se ao marxismo. No entanto, o professor explica que essa oposição não é ao marxismo de modo geral e sim à estratégia da Revolução Cultural gramsciana, e que, apesar das idéias de Gramsci terem feito sucesso entre a esquerda política — e de o embate entre as duas ideologias ainda prosseguir no Brasil (na época)—, a Nova Era venceu no resto do mundo.

Apesar de ter sido visto como sendo uma síntese desse movimento, Capra está longe de representar a Nova Era em sua totalidade, e, mesmo carecendo de informações elementares – tanto sobre a cosmologia chinesa, a qual ele faz bastante referência, bem como de outros assuntos –, seu livro foi um sucesso. O porquê, aponta o filósofo, seria o fato das idéias da Nova Era serem bastante sedutoras, elas dizem o que as pessoas desejam ouvir, oferecendo uma promessa de alívio a qualquer sentimento de culpa.

2. A Revolução Cultural, Antonio Gramsci

Esse ensaio e o capítulo que se segue foram escritos em 1994, especialmente para a formulação do livro. Nele, Olavo explica superficialmente – não por falta de conhecimento, mas por ter muito a dizer sobre o assunto – como Gramsci transformou a estratégia comunista, teorizada por Lênin – o golpe de Estado –, em uma estratégia de revolução psicológica que antecede e prepara a massa da população para aderir a um golpe de Estado sem que se precise usar a força.

Ou seja, ao invés de uma frente armada e organizada tomar o poder e instaurar uma ditadura comunista – algo que sempre gerou muita resistência –, Gramsci concebeu a idéia de moldar, por meio da penetração na cultura, a mentalidade das pessoas para que acatem os valores comunistas, pois assim não haveria resistência quando o golpe de Estado fosse dado. Para isso, ele fez uma distinção importante entre “poder” e “hegemonia”, sendo o poder o controle do aparato estatal – administração, exército e polícia – e a hegemonia o domínio psicológico sobre a multidão.

Olavo explica que a luta pela hegemonia gramsciana é feita por meio dos “intelectuais orgânicos” – qualquer um que fale em nome de um coletivo – e ela não se dá apenas no debate formal entre a ideologia comunista e as demais, ela vai além e busca penetrar no “senso-comum”, ou seja, em hábitos, expectativas, reações, frases feitas, gestos automáticos, chavões e etc. Nesse processo, figuras tradicionais que representam determinados ideais são varridas do imaginário popular – por meio de músicas, filmes, jornais, psicólogos e professores, sobretudo quando destinados ao público infantil – e são substituídas por outras sem que haja um intuito político declarado. A idéia é acabar com símbolos, mitos, crenças religiosas, concepções filosóficas e científicas, e instaurar uma nova cosmovisão de base marxista.

Após uma vasta exposição sobre esse tema, o professor encerra o ensaio explicando como tal estratégia ganhou espaço no Brasil a ponto de inspirar o programa do Partido dos Trabalhadores nas últimas quatro décadas.    

3. A Nova Era e a Revolução Cultural

Para encerrar, Olavo de Carvalho aponta oito pontos de semelhanças entre as duas ideologias, que são maiores do que qualquer diferença que possa haver entre elas. Só para citar alguns: ambas são historicistas, são revoluções culturais, prometem uma espécie de Paraíso na Terra, visam uma reforma psicológica, são aderidas por conversão e não por argumentos, e ambas tiram do indivíduo a autoconsciência reflexiva e crítica, impedindo o desenvolvimento de uma inteligência autônoma.

Para Olavo, nenhuma das duas merecem ser refutadas com argumentos. Basta a compreensão clara do que cada uma significa para que o indivíduo não queira aderir a elas.

Esta resenha não tem a intenção de substituir a leitura do livro, que é bem mais profundo do que parece à primeira vista. Se você gostou dela e deseja ajudar na continuação de nosso trabalho, você pode adquirir esse e diversos outros títulos do professor Olavo de Carvalho no site da Vide Editorial usando nosso cupom, DIARIO5, para garantir um desconto especial no momento da compra, ou também o pode fazer através dos nossos links da Amazon.

Até a próxima!

Sobre o Autor ou Tradutor

Késsia Dutra

Bacharel em Comunicação em Mídias Digitais, estudante de Filosofia e Marketing Digital, e co-produtora do Diário Intelectual.

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